Línguas e cultura indígena em foco - Gestão Socioambiental - Poder Judiciário de Santa Catarina

Línguas e cultura indígena em foco

Nesta coluna, apresentaremos informações interessantes sobre as línguas indígenas e a cultura dos povos que as utilizam, pois, para abordar a herança das línguas é necessário conhecê-las, identificá-las e reconhecer as diferentes culturas que constituem o "caldeirão das línguas" no Brasil.

Trata-se de breve levantamento, não exaustivo, trazido pelos servidores e estagiários voluntários no projeto, bem como por colaboradores indígenas voluntários que participaram do processo. Os textos foram adaptados de livros, teses e dissertações sobre o tema. O foco recaiu nas culturas guarani, kaingang e xokleng porque são elas as existentes em Santa Catarina.

Uma das colaboradoras desta seção é Joana "Parapoty" Vangelista Mongelo, nascida em terras guaranis em Foz do Iguaçu. Mestra em educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, licenciada em pedagogia e no curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica pela mesma universidade. Educadora indígena, com foco em língua e cultura Guarani Mbya e formadora de professores Guarani.

Outro colaborador indígena é Kuaray Tchondaro, vice-cacique e professor da Aldeia Guarani M'Biguaçu, que também assina a supervisão da exposição visual "Línguas indígenas: legado cultural".

Também colaboraram com os temas: Helen Petry, Luísa Bresolin, André Braglia e Gabriela Barreiros.

 

PARA ALÉM DA LÍNGUA PORTUGUESA

Embora tenha uma única língua nacional, o Brasil é um país multilíngue. Atualmente, falam-se cerca de 180 línguas indígenas no Brasil, além de falares africanos, línguas de imigração e de fronteiras. A pluralidade, a riqueza linguística e cultural do Brasil é nossa marca de nascença, politicamente significada junto à nossa biodiversidade.

(Adaptado de ORLANDI, Eni. Língua brasileira e outras histórias: discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: Editora RG, 2009)

 

LINGUAGEM, LUGAR DE LUTA

Para os povos Indígenas, a linguagem é um lugar de luta desde os tempos da colonização, uma vez que todo o processo de colonização começou pela linguagem. Resulta disso que, ainda hoje, as línguas indígenas estão à margem da sociedade, não são conhecidas ou apreciadas. De fato, falar uma língua indígena ainda não representa a possibilidade de formação pessoal e de ascensão profissional.

Tal é a realidade dos povos indígenas: possuem sua língua e sua cultura, produzem sua existência a partir do manejo dos recursos naturais e, ainda assim são "estrangeiros" em sua própria terra. Nesse sentido, não há como não considerar a linguagem como um poderoso mecanismo social e, por isso, contar a história dos povos indígenas é falar sobre o uso das línguas indígenas.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

O QUE FOI A LÍNGUA GERAL TUPI?

A língua geral, ou o "tupi jesuítico" foi a língua de colonização usada pelos missionários e naturalistas. Essa língua foi usada em todo o território nacional maciçamente no século XVII e XVIII. Entretanto, nunca foi reconhecida como língua oficial.

(Adaptado de ORLANDI, Eni. Língua brasileira e outras histórias: discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: Editora RG, 2009)

 

LÍNGUA GUARANI

Em seu conjunto, as variedades da língua guarani são faladas em cinco países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e, em número reduzido, no Uruguai. As línguas guaranis pertencem ao tronco linguístico Tupi. Algumas variedades são Nhandeva (ou Xiripá), Mbya, Ava Guarani e o Kaiowa. Elas são próximas e permitem a compreensão entre os falantes. Por essa razão, não há nenhum problema das pessoas se deslocarem de aldeia em aldeia, de região em região. Embora as línguas guaranis não sejam iguais, o povo guarani forma uma só nação. A diferença aparece nas palavras, na pronúncia ou na escrita. Em decisões como a de viajar de aldeia em aldeia, há uma consciência do "falar diferente do seu parente de outra aldeia". Não há nenhum desconforto nesse sentido, porque todos sabem que pertencem a mesma nação, o que é explicado pelas narrativas que falam da fundação dos guaranis como um único povo.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

LÍNGUA KAINGANG

Segundo o lingüista Aryon Dall'Igna Rodrigues, a língua kaingang pertence à família jê do tronco macro-jê. A lingüista Ursula Wiesemann, classificou a língua dos kaingang atuais em cinco dialetos: (1) de São Paulo (SP), entre os rios Tietê e Paranapanema; (2) do Paraná (PR), entre os rios Paranapanema e Iguaçu; (3) Dialeto Central (C), entre os rios Iguaçu e Uruguai, Estado de Santa Catarina; (4) dialeto sudoeste (SO), ao sul do rio Uruguai e a oeste do rio Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul; e (5) o dialeto sudeste (SE), ao sul do rio Uruguai e leste do rio Passo Fundo. Os dialetos diferenciam-se em várias partes de sua estrutura sendo as diferenças mais evidentes as fonológicas. A situação em relação à língua falada varia de uma terra a outra: há comunidades onde todos são falantes do kaingang, noutras são falantes do português com exceção dos mais velhos que são bilíngües e em outras, a maioria da população é bilíngüe ou falante do português. Mesmo com essas variações percebe-se que os kaingang, em geral, passaram a valorizar o uso da língua materna como um elemento importante, politicamente, para afirmar a legitimidade de suas lutas pela terra.

(Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kaingang)

 

LÍNGUA XOKLENG

A língua xokleng integra o tronco macro-jê e é praticada pelos somente pela etnia xokleng que vive em comunidades indígenas de Santa Catarina. Alguns historiadores dão conta que por volta de 1800, esse povo enfrentou um extermínio no processo de ocupação do vale do rio Itajaí pelos europeus. Atualmente, o número de indígenas xokleng é entre 700 e 1800. Boa parte vive na reserva existente em Ibirama e outros tentam a vida na periferia de cidades da região.
Na reserva, a língua xokleng é falada pela maioria, numa manifestação explícita de resistência étnica. Destaque-se que após uma queda no uso desta língua, o povo xokleng passou a valorizar o aprendizado da sua língua, inclusive em sua forma escrita. Hoje, o grupo vivencia um momento histórico particular de reestruturação e perpetuação da cultura, a partir dessa nova forma de conhecimento.

(Adaptado de: SANTOS, Silvio Coelho dos. Os índios xokleng: memória viual. Florianópolis: Editora da UFSC, Editora da Univali, 1997. De: https://www.labeurb.unicamp.br/elb/indigenas/xokleng.htm. De: http://wikistoriaenciclopedia.wikidot.com/wiki:xokleng)

 

A PALAVRA DA LEI

"O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem". (§ 2º do artigo 210 da Constituição Federal)

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. (Artigo 231 da Constituição Federal)

 

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS LINGUÍSTICOS

A Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (também conhecida como Declaração de Barcelona) é um documento assinado pela UNESCO, o PEN (clube), e várias organizações não-governamentais em 1996 para apoiar o direito linguístico, especialmente os de línguas ameaçadas de extinção. O documento foi aprovado na conclusão da Conferência Mundial sobre Direitos Linguísticos realizada 06 a 09 de junho de 1996, em Barcelona, Espanha. Essa declaração foi construída em alinhamento ao que se recomendou em 1987, no documento conhecido como a "Declaração do Recife", elaborado em 1987 em congresso realizado na Faculdade de Direito do Recife, da UFPE, na cidade do Recife, capital de Pernambuco, Brasil. (Wikipedia)

 

22 LÍNGUAS DIFERENTES, TRÊS CO-OFICIAIS, EM UM SÓ MUNICÍPIO

Uma das regiões mais plurilíngues do Brasil e talvez das Américas é o Alto Rio Negro no Amazonas. No município de São Gabriel da Cachoeira, fronteira com a Colômbia e a Venezuela, são faladas 22 línguas de quatro troncos linguísticos diferentes (Aruak, Maku, Tukano Oriental e Tupi). Três das línguas (Nheengatu, o Tukano e o Baniwa) receberam o status de língua co-oficial por meio da Lei Municipal n. 145/2002. Neste município cerca de 90% da população é indígena.

(Adaptado de OLIVEIRA, Gilvan Müller. Política Linguística na e para além da Educação Formal. Caderno de Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 87-94. Universidade Federal de Santa Catarina, 2005)

 

TEKO'A, LUGAR DE VIDA

Teko'a é a expressão utilizada pelos guaranis quando se referem à sua terra tradicional. Esse espaço tem significados além de um sentido material, físico ou de subsistência. É nessa terra que se produz toda a cultura guarani. A palavra teko'a, no dicionário tupi-guarani, apresenta as concepções: modo de ser, modo de estar, sistema, lei, cultura, comportamento, hábito, costume. Desse modo, é na teko'a que os guaranis realizam seu modo de ser. Uma teko'a é formado por uma família alargada, que caracteriza um ente sócio-político, econômico e territorial autônomo. É a estrutura básica da sociedade guarani. Cada pessoa é parte de uma extensa família extensa, com a qual se identifica.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

AS CANÇÕES SAGRADAS GUARANIS

As canções indígenas guaranis necessitam ser pensados "num ninho de ruídos", os ruídos da comunidade e da natureza que circunda a comunidade indígena, uma composição de sons naturais e do cotidiano: o tempo guarani. As canções passeiam por veredas circundadas de ruídos da mata, assim como pelas falas e sorrisos e outros ruídos humanos, bem como por aqueles indo e vindo porque a família guarani é nômade. A cultura é trazida (ou levada) misturada à natureza porque é impossível separar o fazer guarani da natureza que o circunda.

O povo guarani toca instrumentos enquanto canta para chamar os Deuses. Os Deuses respondem com o envio de seus mensageiros (Tembiguáis Kuéra). Os mensageiros vêm assistir aos cantos e as danças com um único objetivo: informar se os habitantes da terra estão alegres. A alegria é fundamental ao indígena guarani. Os guaranis recebem a comprovação da presença dos mensageiros nos rituais quando chegam os trovões e os relâmpagos.

Outro elemento importante na percepção do canto guarani é a maneira como o povo canta. Os sons graves estão próximos à terra. Os sons agudos estariam longe dela. As meninas necessitam cantar sempre forte e agudo. Elas têm que cantar sempre juntas, em coro e bem afinadas. Só assim poderão demonstrar alegria. Só assim fazem o coração ficar contente.

Os cantares dos indígenas são tão diversos quanto a infinidade de canções. Há cantos para todas as situações. Se o dia foi bom para caçar, há um canto de celebração, um canto de vitória.

Existem também os cantos de morte e os cantos espirituais. Todos esses cantos estão relacionados às cerimônias de iniciação. Junto das canções está a dança. A música e a dança para o indígena relembram e homenageiam os antepassados, o que é fundamental para a sobrevivência da cultura indígena.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).
 

A ORALIDADE NA CULTURA GUARANI

As narrativas fazem a história do povo guarani. É uma cultura em que a transmissão dos saberes ocorre no domínio da oralidade, por meio dos mitos, dos cantos, de rezas. As narrativas se mostram nas múltiplas concepções do "tempo guarani", encarnado em diferentes processos da cultura: tempo das coisas do céu, tempo do tangará, tempo da paca, tempo das canções, tempo dos alimentos, tempo da caça, tempo da mandioca dentre outros. Veja, por exemplo, a simbologia da narrativa que envolve o pássaro tangará, contada na história abaixo.

O tangará:

"Cresci ouvindo meus pais falando bem do tangará. Cada vez que ele aparecia bem cedo, quando minha mãe abria a porta, ela sorria e dizia que quando o tangará aparecia era sinal que iria acontecer alguma coisa boa.

No dia seguinte, meu pai chegava todo feliz porque no nosso próprio quintal aparecia ou um porco do mato ou um coelho, ou uma aperiá ou uma ave grande. E todos lembravam da aparição do tangará no dia anterior. Foi assim que aprendi a canção do tangará, que vive dentro de mim desde pequena:

Tangara ko' nhavõ, tangara ko' nhavõ
Opo, opo, oguyro-guyro.
Tangara ka'aru nhavõ, Tangara ka'aru nhavõ
Opo, opo, oguyro-guyro.
Onhembojere porã, Onhembojere porã
Opo, opo, oguyro-guyro

Tangará no amanhecer, tangará no amanhecer
Pula, pula e roda, roda
Tangará ao entardecer, Tangará ao entardecer
Pula, pula e roda, roda
Ele roda bem bonito, ele roda bem bonito
Pula, pula e roda, roda".

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

A TRANSFORMAÇÃO DE PALAVRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LÍNGUA GUARANI

Dentre os costumes não-indígenas que foram assimilados pela cultura guarani estão as saudações como "bom dia", "boa tarde", "boa noite" e "tchau". Ao passarem pela língua guarani essas expressões foram dotadas de um sentido de ação mais explícito. Assim, "bom dia" em guarani é djawydju e significa algo como "vamos nos levantar", o que remete tanto ao sentido da ação quanto o sentido moral de se levantar. "Boa tarde" é nhande kaárudju e significa "a tarde é nossa", semelhante a boa noite, que significa "a noite é nossa"."Tchau", em guarani, é aadjuma e tem o sentido de "eu estou indo".

(Adaptado de uma conversa com Kuaray Tchondaro, vice-caquice e professor da Aldeia Guarani M'Biguaçu)

 

O REGISTRO ESPIRITUAL DA LÍNGUA GUARANI

Assim como a língua portuguesa que possui registros da língua conforme a situação de uso (formal, informal, familiar, etc.) a língua guarani possui um tipo de registro específico que se pode chamar de "língua espiritual do guarani", que é uma fala que possui simbologia especial e é usada para denominar eventos, coisas e processos por meio de uma visão mais respeitosa e profunda. Por exemplo, a denominação do rio como elemento natural é yy, como em "Itajaí". Pará denota o caráter espiritual do rio. Assim também, a expressão para "terra" também é diferente: Ywy é a terra onde se planta; Ywy Uju é a terra sem males, fazendo referência à visão espiritual da terra.

(Adaptado de uma conversa com Kuaray Tchondaro, vice-caquice e professor da Aldeia Guarani M'Biguaçu)

 

CACIQUE E PAJÉ, NOMES DIFERENTES, FUNÇÕES DIFERENTES

Muito confundidos pelas culturas não-indígenas, os caciques e pajés tem funções diferentes em uma aldeia indígena. O papel dos pajés é trazer as curas através dos espíritos protetores e transmitir o conhecimento e a sabedoria dos antepassados. O papel dos caciques é mais "administrativo" e, hoje em dia, é necessário possuir o entendimento da cultura indígena e da cultura não-indígena para melhor organizar a aldeia interna e externamente.

(Adaptado de uma conversa com Kuaray Tchondaro, vice-caquice e professor da Aldeia Guarani M'Biguaçu)

 

ALDEIA GUARANI ITATY / MORRO DOS CAVALOS, PALHOÇA, SC

Na aldeia Itaty, ou Teko'a Itaty (Aldeia do Monte de Pedra), vivem, hoje, aproximadamente 33 famílias guaranis. Todas essas famílias consideram que a língua guarani é muito importante para a preservação da sua cultura. Nesse sentido, a língua guarani ocupa um lugar primordial na aldeia, é utilizada nos lares para a comunicação entre os membros de uma mesma família, bem como na escola e em toda a comunidade.

A aldeia está situada no km 233 da BR 101. Eles vivem naquela localidade há mais de 500 anos. Segundo alguns pesquisadores de antropologia e arqueologia da UFSC, foram encontrados utensílios que comprovam a existência dos guaranis naquele lugar.

Uma das características que marcam a vida do povo da Teko'a Itaty é seu deslocamento constante para os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, sempre pelo litoral. Às vezes se retiram da aldeia onde vivem e permanecem por tempo indeterminado em outra comunidade guarani. Muitas vezes os deslocamentos são para ajudar as aldeias nas datas importantes, como, por exemplo, nas celebrações na Opy (Casa de Reza).

Viver em sua própria terra é parte de uma luta intensa sentida pela maioria dos povos indígenas no Brasil. O cuidado e a preocupação com as terras se apresentam de muitas formas na aldeia Itaty, dentre elas a situação legal da terra. A demarcação do território para o povo indígena é de extremo significado. Em Itaty, o processo de demarcação finalizou em 2008.

A comunidade busca sua força na preservação da cultura. O canto guarani é sempre sagrado. O mbaraka mir (chocalho) é utilizado na Opy (casa de rezas). Há também a confecção de utensílios como o ajaka (balaios de diferentes tamanhos e formas) que também são vendidos como artesanato.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

ALDEIA GUARANI PIRARUPÁ / PALHOÇA, SC

Em Teko'a Pirarupá, o berço dos peixes, vivem 16 famílias que utilizam mais de uma língua. No contexto doméstico, somente se usa a língua guarani. A língua portuguesa é falada na escola da aldeia.

Pirarupá está situada no km 236 da BR 101. As terras da aldeia Pirarupá ainda estão em processo de demarcação. Seus habitantes trabalham com artesanato indígena, especialmente, animais talhados em madeira. Os animais representados no artesanato indígena são produzidos manualmente. Cada objeto é construído com um grande significado para a comunidade. Geralmente, os animais retratados pertencem à fauna do local onde a aldeia está inserida.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

ALDEIA GUARANI MARANGATU / IMARUÍ, SC

Segundo o cacique Timóteo de Oliveira, cujo nome em guarani é Verá Mirim, os indígenas de Teko'a Marangatu moravam, antigamente, no trevo da cidade de Santo Amaro, SC. Foram realocados para outras comunidades antes de conquistarem seu próprio espaço, em que pudessem plantar os alimentos.

O que mais chama a atenção em Teko'a Marangatu é a roça bonita. De longe se vê lindas plantações de mandioca, milho e muitos legumes. Tudo isso regado pelas águas límpidas de uma belíssima cachoeira onde os jovens dessa e de outras aldeias se encontram para nadar no verão naquele lindo cartão postal.

O que se destaca em Teko'a Marangatu é sua cestaria enorme. É de lá que vem alguns balaios grandes e coloridos que encontramos no Mercado Público Municipal de Florianópolis.

Esta aldeia é uma das que concentra os mais importantes anciãos guaranis que guardam os saberes da nossa cultura, como senhor Augusto da Silva. Lá também mora o senhor Henrique Silveira, um dos únicos guaranis que ainda guardam os saberes sobre o irup (peneira grande). São peneiras grandes e coloridas sobre as quais se pode dizer que guardam o sol em dias nublados. Mas para os guaranis isso não faria sentido porque adoram dias de chuvas e dias nublados. Agradecem a Nhanderú (Deus) pela chuva e pelos os dias nublados. Então, podemos dizer que as peneiras coloridas guardam a alegria que não pode faltar a nenhum guarani.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

 

ALDEIA GUARANI Yy MOROTI VERÁ / BIGUAÇU, SC

Em Yy Moroti Verá, Águas Cristalinas, vive o pajé senhor Alcindo Moreira, de 104 anos. Segundo ele, sua família vivia nas proximidades da ponte Hercílio Luz e, na época da construção da ponte, ele, ainda criança, brincava com outras crianças indígenas na cabeceira da ponte. Foi nessa época também, que senhor Alcindo e os demais indígenas que moravam naquele local deslocaram-se para um outro lugar ao se assustarem com os muitos homens brancos circulando perto da onde moravam.

Segundo o cacique Iral Moreira, da aldeia Yy Moroti Verá, a comunidade se denomina Guarani Nhandeva. Segundo o pajé, na época em que os brancos atacavam os indígenas para matar, os guaranis corriam e gritavam: "nhandeva, nhandeva", cujo significado é: "nós não", implorando aos invasores para que não os matassem. O nome Nhandeva acabou denominando aquele grupo e a variedade linguística da língua guarani que é falada por eles.

O que se destaca na Aldeia Yy Moroti Verá é a arquitetura da escola indígena e a Opy (casa de reza). Na Opy, tudo se passa em língua guarani nhandeva, como nos lares. Já na escola, ela divide o espaço com a língua portuguesa.

Na aldeia Yy Moroti Verá, a comunidade está em uma grande discussão e tensão em relação ao processo de ampliação das terras. A população não-indígena do local não tem aceitado a presença dos guaranis. Ainda hoje, tal conflito não está totalmente resolvido.

(Adaptado de MONGELO, Joana Vangelista. OKOTEVE JA VY'A Educação escolar indígena e educação indígena: contrastes, conflitos e necessidades. Orientador, Prof. Dr. Josué da Silva Filho. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2013).

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