Voltar Diálogo é a chave para a prevenção do abuso sexual contra crianças e adolescentes
Você já parou para pensar quantas vezes, em apenas um dia, as crianças são submetidas a algum tipo de proximidade corporal com pessoas com quem têm pouca ou nenhuma intimidade? Por isso, dar visibilidade ao tema da violência sexual infantil é fundamental para conscientizar as famílias e empoderar as próprias crianças e adolescentes contra esse crime, que muitas vezes passa despercebido. Não importa qual seja o seu papel - pai, mãe, professor, vizinho ou outro membro da família -, você tem o poder de fazer uma diferença positiva na vida desses jovens.
 
Segundo o psicólogo do Poder Judiciário de Santa Catarina Ricardo Luiz de Bom Maria, os sinais da violência sexual nem sempre são óbvios, por isso a importância de estar atento a quaisquer mudanças comportamentais ou físicas que podem indicar que a criança ou o adolescente está sendo vítima de violência.
 
"Dentro da violência sexual não existem respostas simples, porque é um fenômeno muito complexo. Mas isso não quer dizer que não se possa fazer nada, muito pelo contrário. O que a gente percebe é que a melhor proteção que existe é ter um diálogo aberto dentro de casa. A criança precisa ter confiança de que vai ser realmente ouvida. Às vezes, a criança é cobrada de por que não contou antes. A reflexão que o adulto precisa fazer é `por que eu não estive aberto a ouvi-la mais tempo?'", ressalta.
 
Normalmente o abuso é cometido por uma pessoa próxima da vítima, que cria um elo afetivo com a criança ou o adolescente para depois praticar a violência sexual. "Claro que tem a violência que acontece extramuros, ou seja, extrafamiliar, de desconhecidos, o que também é uma situação muito séria. Mas a complexidade aumenta muito quando ela acontece dentro da família, porque envolve, além da própria violência - que já é algo extremamente desorganizador - os laços de afeto", conta o psicólogo.
 
Ou seja, se você está preocupado com o abuso, fale com a criança. Tenha em mente algumas estratégias para criar um ambiente não ameaçador, onde a criança possa ter mais chances de se abrir com você. "Geralmente os abusos duram pouco tempo quando a criança tem uma ligação muito estreita, de confiança, com algum outro adulto - pode ser a mãe ou a avó, por exemplo. Ela se sente confiante de que `eu vou falar isso e sei que não vou apanhar, eu sei que aquela pessoa vai acreditar em mim'. Isso é uma baita proteção. É fundamental conversar com as crianças, explicar esses limites", afirma Ricardo Luiz de Bom Maria.
 
Mas é muito mais fácil explicar para uma criança os limites em relação a um estranho do que a um familiar. No entanto, o diálogo pode ajudar a quebrar as barreiras do medo e auxiliar no combate aos casos de abuso a menores. "Uma coisa é você falar: 'não entra no carro de uma pessoa estranha, não deixa ninguém te tocar'. Agora, como você vai falar: 'não deixa o teu pai te tocar'? Não existe isso. É preciso explicar que tipo de toque é permitido. E daí não é tão fácil. Por isso que esta conversa acaba não acontecendo", pondera o profissional, reafirmando a importância do canal aberto de diálogo a fim de que a criança se sinta segura para contar e entender quando um toque é inapropriado.
 
Ainda, conhecer as características de cada fase do crescimento da criança pode ajudar a evitar equívocos na maneira de lidar com sua sexualidade, respeitando suas etapas e formas de expressão, sem reprimi-las, e enfrentando a invasão da sexualidade infantil por adultos.
 
"Uma situação que geralmente está associada ao abuso é quando a criança tem comportamentos sexualizados. Ao mesmo tempo, é complicado, porque no desenvolvimento da criança é esperado que ela apresente comportamentos de ordem sexual. É preciso lembrar que a criança não é um ser assexuado. A grande diferença, nesse caso, é o comportamento compulsivo, a repetição. E quando a criança impõe algum tipo de dor a si mesma ou ao outro. Isso é muito estranho, porque não é esperado no comportamento dela. Provavelmente está associado a algum comportamento sexual inadequado ao qual essa criança foi exposta", explica.
 
Se identificado o abuso, Ricardo ressalta a importância do acompanhamento psicossocial, pois nem sempre a violência sexual traz consequências a curto prazo. "Toda criança é impactada, mas nem toda criança desenvolve transtorno. Esse impacto pode demorar seis meses ou dez anos para aparecer. A criança pode ter uma personalidade mais saudável e lidar com aquilo de forma mais funcional. E aí tem algo muito importante: se ela tem uma rede de apoio interna, a chance de não desenvolver nenhum transtorno é muito alta".
 
Diante da situação traumática, a criança pode apresentar certos sintomas, como ansiedade, pânico ou depressão. Somam-se outros fatores sérios, como o sentimento de culpa, a sensação de impureza e o medo de se relacionar com outras pessoas. "Às vezes, mais grave que o próprio abuso é não ser acreditada. Isso desorganiza muito a pessoa. Em adolescentes são muito comuns os sintomas da hipersexualidade. Por exemplo, começar a usar roupas curtas, a apresentar atos promíscuos. E, muitas vezes, as pessoas começam a apontar essas ações como a causa do abuso. Mas elas esquecem que aquilo é a consequência e não a causa", conta o profissional.
 
Imagens: Divulgação/TJSC
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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