Voltar Jornalista defende uso da comunicação digital para disseminar cultura de museus

O Brasil vivia uma grave crise econômica e institucional. O presidente, acuado e sem jogo de cintura para lidar com a oposição, fechou o Congresso. Parte da Marinha resistiu ao golpe e exigiu respeito à Constituição. "Caso contrário", ameaçaram os marinheiros, "vamos bombardear o Rio de Janeiro".  A um passo de enfrentar uma guerra civil, e sem apoio popular, o presidente Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo. Ele estava no poder havia nove meses - era novembro de 1891. Muitos historiadores definem este episódio como a 1ª Revolta da Armada. A segunda - e mais conhecida - foi deflagrada em 6 de abril de 1893, há exatos 126 anos. Este capítulo da história e ações   navais em Santa Catarina foram debatidas na primeira mesa da tarde de hoje (06/09), no seminário "História da Justiça e Museus Judiciários". 

Sérgio Willian de Castro Oliveira Filho, oficial da Marinha, doutor em História pela UNICAMP; e José Carlos Mathias, vice-almirante, responsável pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), compuseram a mesa. Eles lembraram que a renúncia de Deodoro não resolveu os problemas porque quem assumiu foi o vice-presidente Floriano Peixoto. Conforme o Artigo 42 da Constituição Federal, outorgada em 1891, o Marechal teria que convocar novas eleições, mas não convocou.  Ocorreu, então, o segundo capítulo da Revolta da Armada. Os insurgentes, porém, não conseguiram apoio do Exército, do Legislativo nem do Judiciário, e ela foi esmagada violentamente por Floriano. A Escola Naval manteve-se neutra. 


Parte dos revoltosos foi presa e outra fugiu para Florianópolis, então Desterro, e tentou se unir aos federalistas gaúchos - mas não teve êxito. "Embora, em determinado momento, tenha ficado difícil separar a Revolta da Armada e da Revolução Federalista", disse Oliveira Filho. Ele relembrou o crime perpetrado pelo coronel Antônio Moreira César, sob às ordens de Floriano Peixoto, contra ao menos 185 presos políticos, executados a sangue frio na Fortaleza de Anhatomirim em 1894. O desfecho da Revolta da Armada, concluiu o pesquisador, se dá com a batalha naval de 16 de abril naquele ano, vencida pelo Governo.

José Carlos Mathias falou da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), hoje sob seu comando, que preserva e divulga o patrimônio histórico e cultural da Marinha. A entidade - ele explicou - tem como objetivo a conservação e o desenvolvimento da consciência marítima brasileira. "Todo o acervo da Revolta da Armada, por exemplo, está no DPHDM e nossas portas estão abertas para pesquisadores, historiadores e estudantes", disse. "É preciso preservar a memória para construir a história", concluiu.

A terceira palestra da tarde foi proferida pelo arquiteto João Paulo Serraglio, mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade. Ele falou sobre o patrimônio arquitetônico de Florianópolis. "A gente vê os edifícios como documentos que se inserem no corpo da cidade", disse. Para ele, as construções são objetos culturais que carregam significados técnicos, artísticos e históricos. A cidade é formada pela soma destas camadas, depositadas no território no decorrer do tempo". Ele contou ainda que duas fortalezas locais irão concorrer, a princípio em 2022, ao título de Patrimônio Mundial pela Unesco:  o Forte de Santo Antônio de Ratones e a própria Fortaleza de Anhatomirim. João faz parte da comissão técnica estadual que elabora os documentos necessários para efetivar a candidatura. 

O jornalista político catarinense, Moacir Pereira, proferiu a penúltima palestra do evento. Ele abordou "a comunicação digital e o acesso direto aos museus". Ele iniciou com uma constatação: "a grande imprensa não tem sido generosa com a nossa história. A alternativa é a utilização da comunicação digital", disse.

Ao reconhecer que as redes sociais mais usadas são do Whatsapp, Youtube e Facebook, Moacir defendeu que os memoriais "gosto mais de usar o termo memorial do que o museu", disse - façam melhor uso destas ferramentas. "A comunicação digital pode ser o acesso direto à história da Justiça", pontuou.

O jornalista argumentou ainda que os acessos eletrônicos aos arquivos dos museus estão isolados do meio acadêmico e vê um grande potencial quando disponibilizados na internet. Para Moacir, o "rico patrimônio do Judiciário" se revela de diversas formas: é possível, por meio dele, "identificar fontes primárias, pesquisar datas e fatos históricos, resgatar processos antigos e com eles revisar possíveis injustiças, além de auxiliar na transparência e no direito ao acesso à informação".  O palestrante registrou o valor do trabalho com a memória e a história. "A leitura de um processo antigo é uma maravilhosa viagem no tempo¿, disse. Moacir finalizou ressaltando a importância do Museu do Judiciário Catarinense, que atualmente expõe documentos da Revolução Federalista.

O Museu preserva e difunde a memória do Poder Judiciário, mantendo sob sua guarda móveis, objetos e documentos de valor histórico. Além disso, promove pesquisas, exposições e eventos. Ele foi criado por resolução do Órgão Especial do TJ, em 1991, por sugestão do desembargador Francisco Xavier Medeiros Vieira.  E seria instalado 10 anos depois, sob a presidência do próprio Xavier Vieira. Realizado em parceria com CNJ, o evento ocorre na Sala de Sessões Ministro Teori Zavascki, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em Florianópolis, e reúne representantes de todos os segmentos da Justiça e especialistas de diversas áreas do conhecimento.

 

Imagens: Caco Álber
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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