Voltar Juiz aborda violência de gênero em documentário sobre identidade popular no Contestado

O juiz Gilberto Killian dos Anjos, titular da Vara Criminal da comarca de Caçador, aceitou convite de professores e alunos do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) daquela cidade para colaborar na realização de um documentário sobre a identidade popular na região do Contestado. O projeto está em fase de finalização. A contribuição do magistrado se deu a partir de uma abordagem que demonstra a ligação entre a Guerra do Contestado e a violência contra a mulher.

Killian dos Anjos aceitou o convite para participar do trabalho porque considera essencial resgatar a história, compreender o passado, refletir o presente e transformar o futuro. Ainda, buscar as raízes, os traços que unem e as figuras que inspiraram e ainda servem de espelho. "Conhecer um povo é olhar o que foi esquecido. É descobrir aquilo que se foi. O tempo ignorado. Não tivemos um Homero para recontar a nossa Ilíada, os mitos, os protagonistas. Tudo ficou em letargia, um esquecimento profundo, não houve nem honra, nem glória a ninguém, muito menos aos caboclos derrotados", avalia.

Sobre a situação da mulher na região frente à violência doméstica, o juiz acredita que talvez ela não seja tão diferenciada de outras regiões do Estado. "A influência da cultura de violência herdada da Guerra do Contestado é bastante significativa e se reflete diretamente na violência de gênero. O laço de agressividade que se formou ainda não foi desatado", reflete.

Nesse contexto, o que permanece é a falta de diálogo como método para solucionar os problemas cotidianos, as frustrações, os medos e desilusões. "Por outro lado, a agressividade e a violência são traços marcantes do que remanesceu de 'cultural', desequilibrando as relações, porque enquanto poucos buscam a inteligência para dialogar, muitos ainda incitam a brutalidade para agredir."

Outros entrevistados entre populares e estudiosos de Calmon, Curitibanos, Lebon Régis, Caçador e Videira fazem parte do roteiro que trata, ainda, de religiosidade, fé e relação com a natureza. O trabalho levanta problemáticas da região e será apresentado numa linguagem poética. Uma música foi composta especialmente para a trilha do filme.

"Não será um documento histórico, mas uma fonte de pesquisa científica e de popularização da ciência", explica o coordenador, Eduardo Nascimento. Foram duas horas de conversa com o magistrado. "Ele nos dá uma base muito importante sobre as violências." O trabalho é financiando pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Neste domingo (23), às 16h, haverá uma live para divulgação do documentário.

Imagens: Divulgação/Comarca de Caçador
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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