Voltar Justiça auxilia processo de doação de documentos que podem mudar a história de Lages

A maior referência da história dos 252 anos de Lages é encontrada na obra de Licurgo Costa, em "O Continente das Lagens". Mas a doação de um acervo para o Município deve contribuir e revelar fatos que podem mudar aquilo que se sabe da "Princesa da Serra".

A transferência de documentos públicos com mais de 200 anos, anotações, livros, compilados e estudos sobre a cidade e a genealogia foi feita com a colaboração do Judiciário catarinense. O juiz Silvio Orsatto, titular do Juizado Especial Cível local, intermediou o processo e compôs o grupo que recebeu 95 quilos de material histórico nesta semana.

O pesquisador e escritor alemão Walter Dachs veio para o Brasil aos 24 anos. Aos 42 casou-se em Lages e, logo em seguida, iniciou a pesquisa. Com sua morte, aos 64 anos, tudo aquilo que conseguiu juntar ficou com a família. Depois de cinco décadas, seus descendentes resolveram doar o acervo que estava em Vitória, no Espírito Santo.

 Leticia Muniz, neta de Walter, foi a responsável por contatar o Instituto Histórico e Geográfico de Lages, responsável pela curadoria técnico-científica, e o Museu Thiago de Castro, que fará a guarda, conservação e disponibilização do acervo ao público.

Muita coisa ainda será identificada por conta do estado de conservação e da ação do tempo nos documentos, o que resultou na fragilidade dos papéis. Um deles, datado de 1848, trata de "Actas das Sessoens do Jury Lages".

Outro, sem identificação do conteúdo, dá conta de registros de reuniões no período de 1829 a 1836. Há, ainda, o diploma do curso de Direito de Joaquim Fiuza de Carvalho, de 1864, e livros contando a história de vereanças a partir de 1771.

Outro documento que chama a atenção trata do discurso de Octacilio Costa (grafia do documento), feito no Rio de Janeiro, em 1949, com o título "Anita Garibaldi. Heroína de Dois Mundos". Além desses, existem documentos que discorrem sobre fatos da história de Santa Catarina, a genealogia de personalidades como Nereu Ramos e alguns religiosos.

Para o juiz Silvio Orsatto, muita informação virá à tona nos próximos cinco anos. "Hoje, a tecnologia nos permite recuperar essas raridades. Lages recebe um importantíssimo presente com o material que vai resgatar essa memória".

O magistrado reforça que o processo intermediado pela equipe da comarca foi fundamental para a conquista. "Esse viés de conciliador permitiu darmos agilidade aos trâmites. Em duas semanas, tudo foi resolvido. Um tempo curto, na minha avaliação".

Uma equipe técnica do Museu Thiago de Castro e historiadores farão a higienização, catalogação e digitalização do acervo para disponibilizá-lo ao público. Ainda não há prazo para que isso ocorra.

Um guardado de três gerações

Leonida Krieger se casou com Walter aos 25 anos. Além de companheira de vida do historiador, ela foi a principal incentivadora do marido em suas pesquisas sobre genealogia e história de Lages. Depois de 22 anos de união baseada em cumplicidade, parceria, respeito e admiração mútuos, Leonida ficou precocemente viúva, o que para ela foi uma perda irreparável. Enquanto esteve em vida, se apegou a todos os pertences do professor Walter de maneira especial, nunca se desprendeu de nada.

Com o falecimento de Leonida, o acervo seguiu guardado na casa de Maria Tereza, filha de Leonida e mãe de Leticia, com quem Leonida residia desde o falecimento de Walter.

"Quando soube do acervo e compreendi que tipo de material era, vislumbrei o valor. Esse material deveria ter o tratamento correto e estar acessível a quem se envolve com pesquisas na área, e não seguir guardado numa residência, esquecido no tempo", diz Leticia, que há algum tempo se propôs a catalogar o material, estabelecer contatos e procurar a melhor forma de doação.

"Por ser leiga na área, fui meio errante, mas com um propósito firme até encontrar o caminho ideal que atendesse a critérios essenciais - o tratamento correto de um material histórico de alto valor, a acessibilidade a institutos e pesquisadores e o direcionamento a quem, por direito, deveria ser o proprietário desses documentos. Esse foi meu norte", revela.

"E fico muito feliz ao ver que o material compilado e a obra produzida por meu avô com tanta dedicação de tempo e energia terão agora bons desdobramentos e renderão tantos frutos e benefícios aos lageanos", finaliza.

 

Imagens: Divulgação/ Fundação Cultural de Lages
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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