Duas quintas-feiras de cada mês são dedicadas a conversas com a comunidade de escolas públicas. Para os Centros de Educação Infantil Municipais (Ceim), a agenda fica disponível aos sábados. As palestras que abordam temas pertinentes a uma juventude saudável e próspera estão na rotina do juiz da 1ª Vara da Família, Idoso, Órfãos e Sucessões da comarca de Chapecó, Ermínio Amarildo Darold, há 18 anos. Para 2023, até o momento, há 20 encontros agendados e outros pedidos aguardando possibilidade de encaixe.
Inspirado nas experiências vividas em audiências de competência da unidade onde atua há 19 anos, o magistrado conta histórias reais ou criadas para discorrer sobre violência, internet, drogas, gravidez na adolescência, responsabilidades domésticas, escola, disciplina, hierarquia, respeito e, principalmente, futuro. “Sempre converso com a direção da escola, antes da palestra, para saber dos maiores problemas lá ocorrentes, para maior ênfase no problema apontado, mas abordo todos os tópicos em aproximadamente uma hora”, explica.
Sem pretensão, Darold foi convidado para palestrar em uma universidade sobre direito constitucional. No entanto, se sentiu desconfortável por entender que o professor tem mais tempo e propriedade para lecionar sobre a matéria. Resolveu voltar a fala para a humanização na aplicação da lei. “O comentário de alguns participantes com outras pessoas fez com que surgissem novos convites e, em pouco tempo, tive que organizar um cronograma para atender a todos”, diz o magistrado, ao lembrar como tudo começou.
Sem nenhuma linha escrita desde o início, a ideia deu tão certo que hoje o magistrado atua em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, que organiza os encontros, reunindo mais de uma instituição na mesma ocasião, e disponibiliza transporte para o juiz. Isso possibilitou a realização das palestras em diversos municípios da regional. “Já encontrei graduados que me abordaram na rua contando que assistiram à palestra quando adolescentes e se motivaram. Também já recebi estagiários na unidade que estudaram Direito inspirados na palestra ocorrida na escola que frequentavam”, celebra o magistrado.
Aliás, a história pessoal de Darold é uma das levadas ao público. Vindo de família sem posses, construiu sua vida e carreira a partir de muito esforço. “Sempre conto minha história para que saibam que as condições que tenho hoje são resultado de muito esforço. E que é possível vencer independentemente das dificuldades. Ainda reforço que, com a estrutura de escola pública e a facilidade de acesso à informação que os jovens têm hoje, não poderão culpar ninguém se não der certo lá na frente.”
Nas palestras, o juiz faz questão de que estejam alunos, professores e pais. Ele acredita que, para uma boa educação, esses três pilares precisam trabalhar juntos. “Os pais são responsáveis pela educação, no sentido mais amplo, dos filhos, ao passo que a escola é responsável pela instrução técnico-científica, com complementação recíproca. Precisamos ser o contraponto a tudo o que as redes sociais e a internet, em geral, oferecem. Somos a âncora e o equilíbrio deles porque sempre há dois caminhos.”
Esse mundo de estudos é para onde Darold direciona o próprio futuro. Apesar de já possuir condições para encerrar a carreira jurídica, se sente motivado pelo amor à profissão e pretende futuramente, se convidado, lecionar no curso de Direito. Há 31 anos na magistratura e 24 na comarca de Chapecó, o magistrado iniciou em 2022 a contagem regressiva de cinco anos para sua aposentadoria.
“Eu realmente gosto muito do meu trabalho. Agradeço todos os dias pela profissão que a vida me permitiu! Gosto de trabalhar com pessoas e tenho uma equipe maravilhosa, tanto no gabinete quanto no cartório. Aprendi muito do ser humano a partir dos dramas presenciados nos processos e principalmente nas audiências. E levar tudo isso para as escolas me faz muito bem. Mesmo cansado quando chego, saio energizado. É uma energia muito boa que recebo”, divide o magistrado, que também presta serviços voluntários há 20 anos em outra instituição local.
Ele também tem sido convidado a palestrar nas universidades locais e em algumas distantes. Na sexta-feira, 2/6, palestrou na Semana Acadêmica do Curso de Direito da PUC-Paraná, em Curitiba, discorrendo sobre o tema “A compreensão do aspecto emocional do ser humano como conteúdo do princípio constitucional da dignidade da pessoa”, com ótima repercussão.
E como em todo momento de troca com a comunidade escolar, o magistrado encerra com a reflexão sugerida pela história em que um invejoso decide “pregar uma peça” para testar o sábio chinês que possuía o poder da adivinhação. O plano era segurar um passarinho escondido nas mãos, apoiadas nas costas. A pergunta ao sábio era se a ave estava viva ou morta. Caso a resposta fosse que o pássaro estava vivo, o invejoso amassaria a cabeça do pássaro e o apresentaria morto. Se a resposta apontasse a morte do animal, ele simplesmente abriria as mãos e o pássaro sairia a voar. E, assim, seguiu para o teste:
- Mestre, a ave que seguro em minhas mãos está viva ou morta?
E o sábio responde:
- A resposta, pois, está em suas mãos!
Aos estudantes, Darold conclui: “Como será o futuro de cada um de vocês? – A resposta, pois, está em suas mãos.”