Voltar Música e palestras abrem o 1º Seminário de Enfrentamento da Violência Contra a Mulher

Música, literatura, pesquisa e lições que a sociedade precisa discutir para evitar que mais mulheres sejam vítimas de violência. Com essa combinação de forças, o 1º Seminário Estadual de Enfrentamento da Violência contra a Mulher teve início na noite desta quarta-feira (16/10), na Sala de Sessões Ministro Teori Zavascki, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em Florianópolis. O evento é organizado pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid/TJSC), Academia Judicial, Associação das Assistentes Sociais e UFSC.

Na abertura dos trabalhos, a desembargadora Salete Sommariva, coordenadora do Cevid, fez um alerta: Santa Catarina já soma 43 casos de feminicídio desde o início do ano, uma das realidades mais preocupantes do país. O Brasil, observou a magistrada, ocupa a 5ª colocação mundial no ranking das mulheres vítimas da violência, atrás apenas de nações árabes e da América Central. "É uma pandemia o que acontece em todo o Brasil. Esse é um momento de reflexão, não só para o poder público, mas para toda a sociedade", anunciou Salete.

A preocupação por trás dos números ganhou voz em canções apresentadas pelo coral da Escola Vereador Paulo Reis, de Itapema, e por alunos da EEB Prof. José Brasilício, de Biguaçu, vencedores do concurso "Nossa Voz Por Elas", promovido pelo Jornal do Almoço, da NSC TV. Em sua manifestação, o presidente do TJSC, desembargador Rodrigo Collaço, cumprimentou os esforços da desembargadora Salete Sommariva à frente da causa no tribunal. Collaço também fez menção às instituições representadas no seminário, que alcançam os mais diversos segmentos da sociedade. "É um evento que nos traz esperança por essa soma de esforços. Todas as instituições que podem ter alguma influência nessa temática estão aqui e todas, certamente, têm uma excelente contribuição a dar", apontou.

Na sequência, a assistente social do Judiciário Olindina Maria da Silva Krueger compartilhou detalhes das pesquisas promovidas pelos profissionais de Assistência Social do TJSC. "Estamos buscando ampliar nosso conhecimento para que o Judiciário seja mais justo e humanizado", apresentou. Abrindo a série de palestras do evento com uma abordagem crítica do tema "Educação para iguldade de gênero", a professora Valeska Maria Zanello de Loyola, doutora em psicologia no Instituto de Psicologia/UNB, esclareceu ao público o conceito de gênero e afastou interpretações preconceituosas sobre o tema. "Gênero é uma categoria política porque aponta para uma hierarquia e uma desigualdade na distribuição de poder", indicou.

Estudiosa de gênero e feminista, Valeksa citou clássicos da Disney, a exemplo das princesas e Ariel e Mulan, como produções onde as mulheres são retratadas sob a necessidade de estarem juntas de um homem. "A gente nunca entende uma mulher solteira no Brasil, avulsa, como tendo protagonismo", refletiu. Propagandas de cerveja, que objetificam a mulher por seus atributos físicos, também foram lembradas pela presença maciça na mídia. A própria indústria pornográfica, comparou a especialista, tratou de erotizar a violência para o consumo do público masculino. O olhar do homem prevalece até na moda feminina, apontou, pois os homens são eleitos como avaliadores físicos e morais das mulheres.

"Por que o público feminino tem tanta insatisfação com o próprio corpo? Isto é produção cultural", manifestou. Segundo a professora, um dos grandes desafios das mulheres é saber dizer "não", inclusive diante de tarefas comumente delegadas à maternidade. "Dói, mas é profundamente libertador", manifestou. Por outro lado, a palestrante destacou a importância da participação dos homens na desconstrução da cultura machista e misógina enraizada na sociedade. "Precisamos de vocês para descontruir o sexismo, o papel de vocês é fundamental", pontuou.

 

Noite tem apresentação de livro

Por fim, a júiza da Capital Ana Luisa Schmidt Ramos apresentou ao público o livro "Violência Psicológica Contra a Mulher: o Dano Psíquico Como Crime de Lesão Corporal", de sua autoria. A obra, explicou a magistrada, trata de uma forma de violência pouco observada no debate social, de cunho psicológico. "Quando falamos da violência contra as mulheres, lembramos da imagem da mulher machucada fisicamente, com seu rosto machucado, um braço quebrado. Lembramos dos feminicídios. Mas tem essa forma de violência que, por muito tempo, ficou em silêncio", explanou.

A juíza apresentou o ciclo da violência, elaborado pela psicóloga americana Lenore Walker, que o dividiu em três fases: fase de tensão, de agressão e de calma. O que permeia todas as etapas, destacou a magistrada, é a violência psicológica e a dificuldade de escapar do ciclo. "Sair de uma situação de violência doméstica requer que você tenha esperança de que o lugar para onde você vai é melhor, mas nem sempre isto e possível", alertou.

Imagens: Edson Inacio
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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