Servidora despede-se após 40 anos de dedicação ao Poder Judiciário de SC - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina

–  Estás feliz com a tua aposentadoria, oficializada no dia de hoje?

Jacqueline titubeia antes de responder.

–  Estou muito feliz, mas vou sentir falta do trabalho, dos amigos e do contato com as pessoas, porque sempre gostei de atender o público; eu nasci para isso.

Jacqueline da Silva Fransozi, a Jackie, trabalha há 40 anos no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, onde ingressou como estagiária no setor de informática.

Ela participou da transformação dos procedimentos analógicos em digitais, fato que mudaria definitiva e radicalmente o dia a dia da Justiça. Sua missão: implantar a informatização dos cartórios. “Gosto de desafios, e este foi o primeiro que enfrentei no TJ”, relembra.

Jackie fazia faculdade de Educação Artística na Udesc, além de ser formada em Técnica de Enfermagem, curso realizado no Colégio Coração de Jesus. As duas formações a ajudariam na trajetória profissional dentro do Poder Judiciário.

A faculdade de Artes fez com que ela superasse a timidez, já o curso técnico lhe abriu a possibilidade de trabalhar, anos depois, na farmácia do TJ, onde permaneceu por 20 anos. Antes, porém, integrou a Divisão de Compras e, mais tarde, a Diretoria Judiciária, com foco em editais. 

Sua paixão mais visceral, desde sempre, foi atender as pessoas, conversar com elas e ajudá-las. Nos atendimentos na farmácia, segundo relatos, Jackie é direta, mas sem resvalar na rudeza ou na indelicadeza. Um servidor, por exemplo, foi comprar remédio para a esposa, indicado pelo médico, mas declinou por ser caro.

– Vou deixar que ela mesma compre – disse o servidor.

– Achas que ela adoeceu sozinha? –rebateu Jackie, de bate-pronto. – Então, tens que ajudá-la, faz a tua parte e compra.

O homem comprou, a esposa melhorou, e o trio ficou amigo.

Segundo colegas de trabalho, Jackie tem o dom de dar conselhos na hora certa, de oferecer palavras de conforto, algo essencial para quem trabalha na área da saúde.  

Aliás, o tratamento humanizado é uma característica da farmácia do TJSC, criada em 2001. Prova disso é a quantidade de mensagens e elogios recebidos semanalmente. “O clima bom que as pessoas de fora percebem é o reflexo do clima que existe aqui dentro”, afirma Jackie. “É um ambiente de harmonia, de companheirismo, de respeito, por isso as coisas fluem tão bem.”

Ela é experiente neste assunto. Voluntária de um centro espírita antes da pandemia, Jackie acolhia e ouvia pessoas com a sensibilidade que lhe é peculiar. “É mais ou menos o que fazia na farmácia, por isso tenho tantos amigos”, conta.

Nem tudo são flores, no entanto. Na época da pandemia, sem poder trabalhar de forma presencial, entrou em processo depressivo. Uma amiga percebeu e a aconselhou a fazer exercícios físicos de forma virtual. Outra amiga sugeriu entrar em redes sociais de relacionamento, coisa que nunca tinha feito antes. O exercício e o contato virtual com pessoas de várias partes do Brasil a ajudaram a superar o isolamento.  

"Algumas pessoas que conheci nestes sites, dentro e fora do país, ainda mantenho contato." Então, a pandemia diminuiu, os trabalhos presenciais voltaram e ela retornou ao TJ, lugar onde construiu sua biografia profissional.  “Toda a minha trajetória passa pelo TJ”, diz.  Mas a vida continua e Jackie tem planos de viajar e, ao mesmo tempo, dedicar mais tempo à família: o filho, a filha, a irmã e a mãe.

A confraternização de despedida, na qual reuniu familiares e alguns amigos, foi realizada no Ático do TJ e contou com a presença do desembargador João Henrique Blasi, presidente do TJSC. Emocionada, ela disse que ao longo destes 40 anos cresceu profissionalmente, mas o aprendizado maior foi como ser humano.

“Hoje, sou o somatório de exemplos maravilhosos da minha família e amigos, e entendi que o mais importante é ser do bem, criar vínculos de afeto e respeito e incentivar as pessoas à nossa volta a fazer o mesmo. Sou muito grata a todos”, concluiu.