Capela Ecumênica

A Capela Ecumênica de Santa Catarina de Alexandria do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina foi construída para abrigar a relíquia de sua padroeira e proporcionar aos seus visitantes momentos de paz, reflexão e diálogo.

Com seus três altares - o central, onde encontra-se o crucifixo; o lateral direito, que guarda a relíquia de Santa Catarina de Alexandria, padroeira do Estado; e o lateral esquerdo, que serve de apoio para a Bíblia Sagrada - esta capela se configura em um pequeno refúgio no meio urbano da capital catarinense.

Trata-se de uma obra do arquiteto Aldo Luiz Eickhoff e sua construção lançou mão da técnica de argamassa armada. Toda a obra foi supervisionada pelo professor Vilson Teixeira de Jesus, da Universidade Federal de Santa Catarina.

As formas arquitetônicas da capela remetem o espectador a, pelo menos, duas possíveis interpretações: a de várias mãos unidas em oração e aquela em que cada parte de concreto que forma a capela representa um dos cinco continentes, os quais, no topo da construção, se unem todos em harmonia e paz.

Em seus 42,3 metros quadrados, pode receber até 37 pessoas sentadas.

Santa Catarina de Alexandria

Catarina nasceu no ano 287, em Alexandria (no Egito), era filha do imperador Costes e da imperatriz Sabinela. Com a morte do pai, a imperatriz Sabinela mudou-se com a filha para a Cilícia (na Turquia), onde converteu-se ao cristianismo por influência de Ananias, um ermitão que por lá vivia. Nessa época, Catarina possuía 8 anos de idade e, rapidamente, tornou-se conhecida na região por sua sabedoria e beleza. Com o passar dos anos, tornou-se grande defensora da fé cristã.

Aos 12 anos de idade, Catarina teve um sonho no qual Jesus Cristo apresentava-se a ela e dizia que, daquela data em diante, Catarina seria sua noiva e, por esse motivo, não deveria entregar-se a nenhum outro homem. Dizendo isso, Jesus entregou-lhe um anel de noivado. Ao acordar na manhã seguinte, Catarina contou o sonho à mãe, que, tomando o sonho como um sinal, mandou confeccionar um anel. Daquele momento em diante, Catarina passaria a denominar-se a Noiva de Cristo.

Catarina tornou-se cada vez mais conhecida e admirada por sua inteligência, simpatia, sabedoria, beleza e eloquência. Contudo, todos esses atributos despertaram o interesse do então imperador de Alexandria Maximino Daia, o qual perseguia cristãos em todo o seu império. Com o intuito de desposá-la, o imperador convidou-a para um debate com alguns de seus maiores sábios. Caso Catarina saísse vencedora do debate, teria o privilégio de professar sua fé em Cristo por todo o reino de Alexandria.

Catarina, com 17 anos de idade, aceitou o desafio para debater com os sábios selecionados pelo imperador. Ao fim desse debate, Catarina os converteu à fé cristã. Maximino ficou enfurecido com o resultado e ordenou que todos os sábios fossem queimados em praça pública e que Catarina seria imediatamente presa.

Nesse momento começava o martírio de Catarina. Primeiro foi aprisionada em uma masmorra, onde era humilhada, espancada, chicoteada e ridicularizada. Nesta condição, Catarina permaneceu por dois anos, sendo constantemente martirizada pelos soldados que cumpriam as ordens do imperador, o qual desejava desposá-la e tê-la como súdita obediente aos seus costumes e deuses.

Maximino, atendendo aos conselhos de novos sábios, condenou Catarina ao suplício da roda (o qual consistia em um conjunto de quatro rodas, que giravam em sentido contrário umas das outras, recobertas com lâminas em forma de garras, dilacerando o que havia em seu caminho).

O enfrentamento dessas circunstâncias e a manutenção de sua fé, tornou-se prova da devoção que Catarina possuía por Cristo. Ao ser levada para a praça onde seria supliciada pelas rodas, Catarina orou para que o instrumento de martírio fosse destruído pelas mãos Divinas e para que nenhum outro cristão padecesse por ela. Após o término de suas preces, conta-se que um raio destruiu as rodas, matando os soldados que a carregavam.

Irritado com esse desfecho, o imperador Maximino enviou Catarina à prisão por mais 12 dias, sem água e comida para que, ao final desse período, ela se entregasse a ele. Entretanto, diferentemente daquilo que o imperador desejava, Catarina permaneceu fiel à sua fé e negou-se a tornar-se esposa do imperador ou mesmo a ajoelhar-se aos deuses dele.

Com isso, Maximino ordenou a decapitação de Catarina, no dia 25 de novembro de 305.

A relíquia de Santa Catarina de Alexandria

O processo de transferência da relíquia de Santa Catarina de Alexandria para Florianópolis foi deflagrado em 29 de maio de 2000. Naquele dia, o governador Esperidião Amin recebeu no Palácio do Governo (atual Fórum Eduardo Luz) uma comitiva da Igreja Ortodoxa Grega, liderada pelo arcebispo de Buenos Aires, monsenhor Genadios, que veio ao Estado para celebrar missa solene em homenagem a Santa Catarina. Cerca de dez pessoas participaram do encontro.

A ideia inicial lançada pelo governador era de tentar obter algum objeto material usado pela Santa, se existisse, ou uma peça artístico-cultural do acervo do Mosteiro existente no Monte Sinai (no Egito).

A visita da maior autoridade da Igreja Ortodoxa na América Latina transformou a proposta inicial numa solicitação mais ambiciosa.

Seria possível que a Igreja providenciasse a transferência de uma relíquia de Santa Catarina? - indagou o monsenhor Angelos, com aval do governador. O arcebispo admitiu apenas a hipótese de exame da reivindicação dos catarinenses e solicitou ao governador Esperidião Amin que formalizasse o pedido em carta dirigida ao Patriarca de Constantinopla (Istambul), Bartolomeus. A mesma solicitação seria encaminhada ao arcebispo Damianós, principal autoridade do Mosteiro no Monte Sinai.

A partir daí o monsenhor Angelos Kontaxis assumiu a coordenação de todos os contatos. Ele reuniu-se com o ex-deputado Nelson Pedrini, assessor direto do governador, definindo os termos das correspondências oficiais.

No dia 13 de junho de 2000, o governador Esperidião Amin entregou a carta dirigida ao arcebispo Genadios. Monsenhor Angelos providenciou a versão em grego e despachou o documento para a Turquia. As duas cartas, com versões diferentes, foram remetidas ao patriarcado em Constantinopla (Istambul), por meio da Arquidiocese de Buenos Aires. Nada aconteceu até meados de setembro daquele ano, o que deixou o monsenhor bastante aflito, motivando uma audiência sua com o governador do Estado.

No dia 29 de setembro, o Cerimonial do Palácio do Governo cuidava dos preparativos para as comemorações do Dia de Santa Catarina, em 25 de novembro. Monsenhor Angelos foi convidado a participar da reunião para informar como estavam as tratativas acerca da relíquia da padroeira.

Conversando com o arcebispo Genadios, em Buenos Aires, monsenhor Angelos foi aconselhado a entrar em contato direto com as autoridades do Monte Sinai, a fim de tratar de viagem ao Egito, para efetivar a transferência da relíquia. Em contato telefônico com o arcebispo Damianós, que se encontrava em viagem a Atenas, monsenhor Angelos falou da inauguração do monumento a Santa Catarina idealizado pelo artista Rodrigo de Haro, a ser construído na Praça Tancredo Neves e forneceu outras informações que fundamentavam o pleito.

- Vai ser muito difícil conseguir uma relíquia. O senhor vai ter que discutir com 25 monges - foi a resposta inicial.

Angelos não esmoreceu. Ligou imediatamente para o mosteiro no Monte Sinai. A conversa telefônica da Igreja Ortodoxa de Florianópolis com o mosteiro durou um pouco mais de uma hora. Para autorizar a transferência da relíquia para o Estado, seria indispensável que houvesse uma capela ecumênica de fácil acesso ao público para recebê-la.

A agenda do Palácio do Governo mantém o registro de audiência concedida pelo governador Esperidião Amin ao monsenhor Angelos. Naquela ocasião, foi feito um relato minucioso sobre os termos negociados com o mosteiro e a decisão de autorizar a transferência da relíquia. Entusiasmado, o governador realizou doação para o mosteiro, ofereceu um pequeno presente pessoal e determinou aos auxiliares que providenciassem algumas lembranças aos monges do mosteiro. Uma imagem de Cristo esculpida em madeira por um artista catarinense de Treze Tílias, uma bandeira de Santa Catarina e mapas do Brasil e do Estado foram entregues ao monsenhor Angelos.

Marcos Bayer, da Assessoria Internacional do Palácio do Governo, enviou um fax ao embaixador do Brasil no Cairo, inteirando-o da missão Angelos e pedindo apoio logístico durante sua permanência no Egito.

No dia 12 de outubro de 2000, o monsenhor dirigiu-se ao aeroporto internacional Hercílio Luz acompanhado do médico Savas Pítsica e de Siríaco Diamantaras. Embarcou às 5h e 30min para São Paulo, onde foi saudado pelo vigário-geral do Brasil monsenhor Nectários e pelo padre Basílio Lima. De São Paulo partiu para o Cairo, com escala em Frankfurt, na Alemanha.

Na capital egípcia a recepção ficou a cargo da representação diplomática brasileira. Uma carta pessoal de boas vindas do embaixador Celso de Souza foi entregue ao visitante. Um veículo oficial conduziu monsenhor Angelos à Igreja de Santa Catarina, no Cairo, onde fez passagem rápida. Logo após visitar a igreja, viajou por seis horas e meia, chegando finalmente ao destino, depois de parar num oásis, onde bebeu água e encontrou-se com beduínos.

O boletim da Igreja Ortodoxa Grega em Florianópolis publicou um pequeno relato do monsenhor Angelos:

Primeira visita: atravessamos o Nilo, mais de 130 quilômetros depois cruzávamos o Canal de Suez. Percorremos 340 quilômetros, muitos deles ao lado do Mar Morto. As estradas são boas e largas. Mas é tudo deserto, exceto um oásis a alguns quilômetros antes do mosteiro, onde paramos um pouco para descansar e beber água fresca.

Chegamos ao mosteiro depois das 21:30 horas. Tudo escuro, tudo em silêncio absoluto. A primeira impressão é da santidade do lugar. O mosteiro [é] rodeado de enormes montanhas. Senti-me perto de Deus com o total silêncio e as estrelas brilhando a céu aberto. Fui conduzido, então, à hospedaria dos visitantes, fora das muralhas do mosteiro e, cansado, depois de 48 horas de viagem, descansei.

Acordaram-me às 4:30 horas no sábado para assistir à missa até às 8:00 horas. Após a celebração fui recebido calorosamente pelo arcebispo Damianós, que, de braços abertos, transmitiu a saudação em nome dos 25 padres, monges e principiantes.

Seguiram-se os atos de praxe. Foram entregues aos monges as doações arrecadadas em Santa Catarina, uma escultura de Cristo, presenteada pelo governo do Estado, e a bandeira de Santa Catarina. Foram dadas explicações a respeito da localização do Estado no Brasil, bem como a posição geográfica e características de Florianópolis.

Os monges rejeitaram, de imediato, a ideia de se construir um memorial para receber a relíquia. A proposta de um espaço reservado no Palácio do Governo de Santa Catarina também foi negada. O arcebispo Damianós insistiu que seria favorável ao pedido do governador somente caso a relíquia fosse abrigada em uma capela ecumênica. Neste caso, a transferência da relíquia dependeria, portanto, de ações que deveriam ser efetivadas pelo Estado de Santa Catarina, quais sejam: a construção de uma capela com o nome da padroeira, a assinatura de um documento de responsabilidade da Igreja e da comunidade helênica de Florianópolis e a comprovação de medidas adequadas de guarda, segurança e acesso ao público.

Atendidas as exigências formuladas pelos monges, esses decidiram oferecer aos catarinenses um pequeno pedaço de osso da costela de Santa Catarina.

No dia 16 de outubro de 2000, o monsenhor realizou o sonho acalentado por todos os peregrinos que visitam o mosteiro: subir o cume do Monte Sinai, pisando no local onde Moisés, conforme a crença cristã, teria recebido os dez mandamentos. Além do Monte, monsenhor visitou também dois mosteiros de freiras e alguns locais históricos considerados sagrados.

O retorno ao Cairo deu-se sob sol intenso, muito calor e cenas insólitas como a passagem por 30 barreiras do exército egípcio, isso porque haviam acontecido graves incidentes no território palestino.

O embaixador do Brasil no Egito, Celso de Souza, foi o primeiro a reverenciar a relíquia, a qual seria acondicionada, na cidade do Cairo, em uma caixa bastante delicada e com acabamento dourado.

O desembarque do monsenhor Angelos em Florianópolis ganhou destaque no periódico Diário Catarinense, em sua edição de 22 de outubro de 2000, com as seguintes afirmações:

De um sarcófago de mármore instalado no interior da igreja do Monastério de Santa Catarina, localizado ao pé do Monte Sinai, no nordeste do Egito, o monsenhor Angelos Kontaxis, pároco da Igreja Grego-Ortodoxa do Brasil em Florianópolis, trouxe preciosas relíquias de Santa Catarina de Alexandria, a padroeira do Estado e da Arquidiocese de Florianópolis.

Quando desembarcou no aeroporto internacional Hercílio Luz, às 11h, em uma sexta-feira, o monsenhor Angelos transbordava emoção. Ele não conseguia esconder a euforia de um feito inédito. ¿Conseguimos, graças a Deus¿, suspirou para um pequeno grupo de cristãos ortodoxos que foram recepcioná-lo no aeroporto.

A apresentação ao governador Esperidião Amin aconteceu após visita do monsenhor Angelos no Palácio Santa Catarina, no dia 27 de outubro, num clima de confraternização. Na ocasião, o chefe do Executivo foi homenageado com uma medalha contendo a imagem de Santa Catarina.

Com a Igreja São Nicolau repleta de fiéis, apesar de ser uma segunda-feira, ocorreu a cerimônia em homenagem a Santa Catarina. Nesta cerimônia estavam presentes o governador Esperidião Amin, sua mãe, dona Elza Amin, e o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Des. Francisco Xavier Medeiros Vieira. A cerimônia seguiu o ritual grego-ortodoxo-bizantino. Naquela ocasião foi anunciada a decisão do Judiciário de construir uma capela que guardaria a relíquia de Santa Catarina.

A inauguração da capela e recebimento da relíquia aconteceram no dia 23 de novembro de 2001, como parte da programação do Dia de Santa Catarina.

A capela, também conhecida como Capela Ecumênica do Tribunal de Justiça, teve seu uso regulamentado pela Resolução GP n. 46/2001, de 5 de novembro de 2001, durante a presidência do Des. Francisco Xavier Medeiros Vieira.