Dicas de redação

Voltar Era no princípio o verbo

“Prefira verbos e substantivos a adjetivos e advérbios” é uma recomendação disseminada em vários manuais e guias de redação. O que raramente se indica, porém, é dar preferência a verbos, e não a substantivos, em determinadas situações, principalmente para tornar o texto técnico mais fluido, preciso, conciso e inteligível, como agora se sugere nestas dicas.

  1. Evite a substantivação de verbos que exprimem ação. Em vez de “A entrega do relatório ocorreu ontem”; “Compete à Academia Judicial a coordenação do Programa de Residência Jurídica”; “Ao magistrado cabe a decisão do processo”, escreva “O relatório foi entregue ontem”; “Compete à Academia Judicial coordenar o Programa de Residência Jurídica”; “Ao magistrado cabe decidir o processo”.
  2. Substitua a combinação desnecessária de verbo e seu complemento (“dar uma opinião”, “determinou a proibição”, “procederá à realização”, por exemplo) por um verbo apenas (nos exemplos acima, “opinar”, “proibiu” e “realizará”). Observe que, além de obter concisão, qualidade desejável em gêneros textuais das áreas jurídica e administrativa, a carga informativa fica bem mais forte.
  3. Cuidado com a sinonímia. Se alguém simplesmente disse ou afirmou algo, espera-se que o relato de suas palavras seja introduzido por verbos como “dizer”, “afirmar” ou outro equivalente. Eles não são sinônimos nem têm o mesmo peso semântico de, por exemplo, “asseverar”, “protestar”, “ressaltar” ou “destacar”. Não repetir palavras não parece ser um bom motivo para abrir mão da precisão e da clareza, duas qualidades que se espera encontrar nos gêneros textuais acima mencionados.
  4. Desconfie de posicionamentos que condenam o uso de um verbo porque (ainda) não está registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Uma vez torceram o nariz por causa de “oportunizar”. Assim como outras classes abertas de palavras, verbos são criados para atender a necessidades de comunicação e de interação social e se formam segundo certas regras gramaticais. O sufixo -izar, por exemplo, é comumente empregado na formação de novos verbos que têm por base certos substantivos ou adjetivos (“símbolo” > “simbolizar”; “formal” > “formalizar”; “humano” > “humanizar”). Pondere, por outro lado, se é necessário criar um verbo quando já existe um adequado ao contexto.

Para não se esquecer da importância que os verbos têm no texto, invente um mantra que sirva como um dos seus princípios básicos de redação. Quem aprecia o poeta Fernando Pessoa pode entoar algo como “verbalizar é preciso, substantivar não é preciso”.

Elaboração:
Giovanni Secco
Pietro Tabarin Volponi