Dicas de redação

Voltar Triste fim de Policarpo Mesóclise

Dizemos que um pronome átono (por exemplo, “me”, “te”, “o”, “a”, “lhe”, “se”) está em mesóclise quando se posiciona no meio de um verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito.

Na terceira década do século XXI ainda tem gente usando a mesóclise, principalmente em início de frase, porque quer cumprir esta lição escolar à risca: orações ou frases não devem começar com pronome átono. Assim, em textos formais, como ofícios, não se deveria escrever “Te darei mais informações sobre o caso em breve”, e sim “Dar-te-ei mais informações sobre o caso em breve”. Meteu-se aqui uma mesóclise ou, para quem gosta de pompa e afetação, uma construção mesoclítica.

Conheça algumas dicas para evitar esse tipo extravagante de colocação pronominal.

  1. Encontre uma construção alternativa à mesóclise. Em vez de “Respeitar-se-á a ordem cronológica dos pedidos”, opte por “Será respeitada a ordem cronológica dos pedidos”. Ou ainda, quando der, traga o sujeito para o começo da frase: “A ordem cronológica dos pedidos será respeitada”.
  2. Se a oração se inicia com sujeito expresso, prefira a próclise (colocação do pronome átono antes do verbo): “A diretora se comunicará com todos os servidores e servidoras responsáveis pelo atendimento ao público” (e não “A diretora comunicar-se-á com todos...”).
  3. Outra estratégia é explicitar o sujeito da oração e pôr o pronome átono em próclise: em vez de “Comprometer-me-ei a enviar o relatório no prazo de 15 dias”, opte por “Eu me comprometerei a enviar o relatório no prazo de 15 dias”.
  4. No caso de locução verbal, considere que o pronome átono se liga ao infinitivo, e não à forma verbal do futuro do presente ou do futuro do pretérito. Por isso, é adequado escrever “Poderá se calcular precisamente a dívida com base na nova fórmula matemática” (em vez de “Poder-se-á calcular...”). Ou, bem melhor, pela fluidez e simplicidade: “Poderá ser calculada precisamente a dívida com base na nova fórmula matemática”.

Policarpo Quaresma era tão patriota que procurava manifestações culturais e coisas genuinamente brasileiras. Em petição, chegou a requerer ao Congresso Nacional que decretasse o tupi-guarani como “língua oficial e nacional do povo brasileiro”. Ideia um tanto inusitada, reconheçamos, não muito diferente da postura de Policarpo Mesóclise, que insiste em cultivar formas de expressão anacrônicas ou artificiais, acreditando que escreve bem no século XXI.

Elaboração:
Giovanni Secco
Pietro Tabarin Volponi