Dicas financeiras

Voltar Cartão de crédito: mocinho ou vilão?

O cartão de crédito é uma forma de pagamento muito utilizada pela população brasileira. A maneira como é utilizado define se ele pode ser o mocinho ou o vilão de suas finanças pessoais. Nesta dica financeira, entenderemos como ele funciona, suas vantagens e desvantagens.

Em pesquisa realizada, em agosto de 2021, pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), ficou demonstrado que os meios de pagamentos digitais ganharam força durante a pandemia da Covid-19, dentre eles o cartão de crédito, passando a ser utilizado por 57% da população (quarto mais utilizado). Esse meio de pagamento surgiu nos Estados Unidos na década de 1950 e, em 1968, surgiu o primeiro cartão de crédito do Brasil: o Elo, do Bradesco. De lá para cá, ele se modernizou, sendo hoje uma das formas de crédito mais populares do mundo.

Como este crédito funciona? A instituição financeira gestora disponibiliza um limite de crédito com base na análise do perfil do titular do cartão. Este crédito possibilita o pagamento de compras, até o comprometimento total do limite de crédito, em um prazo de até 40 dias, conforme a data de vencimento da fatura mensal. Com o pagamento da fatura, o valor do limite é liberado para novas compras. Caso a fatura não seja paga na íntegra até a data de seu vencimento, passa a ser utilizado o crédito rotativo, com a incidência de uma das maiores taxas de juros do mercado sobre o valor remanescente (não pago). No entanto, a partir de 3 de abril de 2017, com a entrada em vigor da Resolução n. 4.549 do Conselho Monetário Nacional, a dívida no crédito rotativo somente pode ser mantida até o vencimento da fatura do mês subsequente (em torno de 30 dias). Assim, o pagamento do valor total da fatura até este prazo limite tornou-se obrigatória e, caso não aconteça, é necessária a negociação de uma forma de parcelamento alternativa com a instituição financeira, a partir de juros menores aos do crédito rotativo.

O cartão também pode gerar eventuais cobranças relacionadas ao seu próprio serviço, como por exemplo: anuidade, emissão de segunda via, tarifas de saque, pedido de reavaliação emergencial de limite de crédito, serviços de mensagens automáticas, entre outras. Vale destacar que despesas realizadas no exterior, em moeda estrangeira, estarão sujeitas ao câmbio do dia do fechamento da fatura.

Apesar do crescimento, a utilização do cartão de crédito ainda é temida por muitas pessoas. Isso porque sua utilização é muito simples, favorecendo o descontrole nas contas e o receio de não conseguir pagar a fatura integralmente em dia. De fato, para utilizar o cartão de crédito, a organização do orçamento é fundamental, pois possibilita identificar o limite de gastos no mês. Assim, com disciplina e controle, é possível usufruir de seus benefícios.

Mas por que o cartão de crédito também é visto como vilão? Um dos motivos, é apresentar uma das taxas de juros mais altas do mercado, chegando a cerca de 27,5% ao mês! Desta forma, sua utilização sem planejamento pode gerar um endividamento difícil de reverter. No entanto, é importante termos consciência de que estes juros só incidem no caso de atraso no pagamento integral da fatura.

Mas como posso utilizá-lo a meu favor? Primeiramente, para evitar cair na "armadilha” dos juros altos, é necessário acompanhar seus gastos com frequência e utilizar o cartão com conhecimento e controle de seu orçamento. Neste sentido, o nosso Programa de Educação Financeira disponibiliza, em sua página principal, uma planilha que poderá auxiliar na organização de seu orçamento familiar.

Por que é importante fazer isso? Porque desta forma você poderá determinar o seu limite de gastos. O limite de seu cartão pode até ser maior do que a sua renda mensal, mas isso não significa que você deva utilizá-lo na íntegra. Para evitar o risco de não conseguir quitar a fatura, é necessário organizar seu orçamento e estabelecer seus próprios limites de gastos com o cartão.

Pesquisas sobre o uso do crédito demostram dois padrões de utilização do cartão. Um deles é em compras de maior valor, que não cabem no orçamento mensal e oferecem parcelamento pelo mesmo valor do pagamento à vista, ou seja, sem desconto. Esta é uma possibilidade para a aquisição de um bem no curto prazo. Mas não se iluda, pois, embora não explícitos, possivelmente você estará pagando juros nesta modalidade de parcelamento. Ainda, não se indica o parcelamento de compras que se repetem periodicamente (mercado, farmácia, dentre outras), pois as parcelas se somam e podem superar os valores que seriam pagos no crédito à vista. Isto também impossibilita futuras reduções de gastos mensais, pois o parcelamento de compras anteriores será cobrado nos meses futuros.

 O outro padrão, que para muitos auxilia na organização das contas, exige ainda mais consciência financeira e atenção no controle dos gastos: concentrar grande parte das despesas do mês no cartão de crédito. Desta forma, além de ter quase todas as despesas listadas na fatura, ainda é possível aplicar suas receitas mensais em investimentos com liquidez imediata, assegurando certa rentabilidade até o momento do pagamento do cartão. Para tanto, sugere-se que a data de vencimento da fatura seja próxima à data de recebimento do salário. Neste cenário, é possível ter as seguintes vantagens: maior prazo para pagamento, rendimentos sobre a aplicação das receitas ao longo do mês e possibilidade de obter maior pontuação em programas de benefícios dos cartões (milhas, cashback, dentre outros), caso você participe.

Ter muitos cartões pode dificultar o controle dos gastos: se você possui apenas uma fonte de renda, o ideal é ter apenas um cartão, facilitando seu controle e possibilitando mais benefícios em programas, além de eventuais isenções de tarifas. Quanto maior o número de cartões utilizados, maior a dificuldade para administrá-los.

Mocinho ou vilão? Nem um, nem outro. O cartão de crédito é apenas mais uma forma de pagamento. O que definirá se é ou não vantajoso é a forma como é utilizado, podendo trazer benefícios ou “dores de cabeça”.

Achou o conteúdo interessante, quer saber mais? Acesse a página do Programa de Educação Financeira e conte conosco para uma conversa agradável sobre o tema! Quer contribuir com o programa ou sugerir conteúdo para nossas ações? Então mande seu e-mail para educacaofinanceira@tjsc.jus.br.

Elaboração:
Kellen Cristina Ruberti
Marcelo Dias e Silva
Equipe do Programa de Educação Financeira
 
Referências:
PEREGRINO, Fernanda. Conheça os meios de pagamento mais usados pelos brasileiros. Publicado em 27 de agosto de 2021. https://cndl.org.br/varejosa/conheca-os-meios-de-pagamento-mais-usados-pelos-brasileiros/. Acesso em: 08 de dez. de 2021.
 
Cidade Verde. História: você sabe quem inventou o cartão de crédito? Publicado em 12/02/2020.  https://cidadeverde.com/noticias/317815/historia-voce-sabe-quem-inventou-o-cartao-de-credito. Acesso em: 08 de dez de 2021.
 
Banco Central do Brasil. Perguntas e respostas: cartão de crédito e crédito rotativo. Atualizado em outubro/2021. https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/perguntasfrequentes-respostas/faq_cartao. Acesso em: 08 de dez de 2021.
 
Serasa. Cartão de Crédito: o que é e como funciona. https://www.serasa.com.br/ensina/seu-credito/cartao-de-credito-o-que-e-e-como-funciona/. Acesso em 08 de dez de 2021.