Anglicismo: por que evitar?

Na dica de março foi abordada a figura do neologismo por empréstimo - aquele no qual se insere a utilização de palavras estrangeiras no nosso dia a dia. Tal fenômeno, conhecido como estrangeirismo, ocorre porque muitas vezes não encontramos em nosso vocabulário um termo para designar determinado objeto ou ação. É o que se infere, por exemplo, do verbo engajar, original do francês engager.

Quando o estrangeirismo refere-se ao inglês, ele é denominado anglicismo, o que, para muitos gramáticos, é considerado como vício de linguagem, ainda que tal conclusão não seja um consenso.

De todo modo, o fato é que atualmente tem ocorrido uma utilização exagerada de termos em inglês. Afinal, para que chamar uma tigela de bowl, centro comercial de shopping center, sucesso de hit, bar de pub e classificação de ranking? O português é um idioma rico e possui vocabulário mais do que suficiente para expressar a ideia que o interlocutor pretende transmitir. E se na comunicação informal esse culto ao inglês incomoda, na comunicação escrita e formal o dano pode ser muito maior. Isso porque o anglicismo acaba produzindo construções esdrúxulas, que não fazem o menor sentido, principalmente em razão de traduções mal feitas e estruturas gramaticais inexistentes.

O gerundismo é uma conhecida hipótese de como o anglicismo tornou-se um vício na língua portuguesa. O uso desenfreado do gerúndio, a exemplo da expressão "eu vou estar (fazendo alguma coisa)", revela o quão pode ser prejudicial a falta de técnica linguística.

Destaca-se, também, outro caso, um tanto mais singelo e que pode passar despercebido para a maioria das pessoas: a utilização da preposição "sobre". No inglês, muitas preposições são utilizadas nos finais das frases, e o about não foge à regra: you don't know what I'm talking about (você não sabe do que eu estou falando). A tradução de about para "sobre" - que também pode ser compreendido como "a respeito de" - acabou sendo aplicada de forma equivocada, colocando-se a preposição no final das frases, sendo que na sintaxe portuguesa tal estrutura não ocorre. É o famoso: "Sabe aquele tema? Precisamos discutir sobre". Como se não bastasse, "sobre" começou a ser utilizado em construções sintáticas semelhantes àquela conhecida letra de música: "Não é sobre estar certo", porque em inglês utiliza-se it's about something. Porém, a falta de um sujeito impede a existência da preposição na oração, tal como ela foi empregada.

Pode-se incluir, ainda: o verbo realizar no sentido de perceber; assumir no sentido de supor; suportar no sentido de apoiar; aplicar para expressar inscrever ou candidatar; a tradução errônea de no more para "sem mais"; "meu ponto" para expressar "o que eu quero dizer"; o uso do verbo pertencer para se referir a lugar (I don't belong here).

Nesse contexto, por mais tentador que seja o uso de certos termos ou palavras para enriquecer o texto, porque a língua é dinâmica e absorve novas influências todos os dias, é preciso ter cautela. Por vezes, não nos damos conta de que estamos reproduzindo um termo de maneira equivocada e reproduzindo uma estrutura de frase que não condiz com as nossas regras gramaticais. O resultado é, mais uma vez, o empobrecimento linguístico.

Elaboração: Patrícia Corazza