O papel da língua portuguesa

Nos últimos tempos, uma vertente tem tomado corpo no âmbito do ensino da língua portuguesa, denominada português inclusivo.

Dentro deste panorama de inclusão por meio da língua falada e escrita, pretende-se que as pessoas não se sintam excluídas, seja em razão do gênero, como também em virtude dos reflexos da desigualdade social. Nesse caso, observa-se que muitos grupos são excluídos pelo fato de escreverem ou falarem errado.

Como forma de acolher esses grupos, o movimento pela flexibilização das regras gramaticais surgiu para que o papel da comunicação, do ponto de vista social e cultural, passe a ser de agregar, e não de segregar.

Trata-se de uma premissa interessante e muito bem intencionada. Porém, como tudo, há um aspecto negativo que merece ser apontado: a flexibilização na língua carrega, por assim dizer, a irresponsabilidade de quem a utiliza.

É notório que o português vem sendo mal empregado. Aliás, as mídias sociais escancararam o que muitos haviam percebido: as pessoas não sabem mais escrever e não se importam com isso.

As regras gramaticais são desrespeitadas, a ortografia é capenga, a interpretação de texto, então, não existe. Nem mesmo as páginas de notícias estão ilesas. Quantos erros são encontrados nos textos!

Além disso, o anglicismo -  tema abordado na dica de julho de 2020 -  surgiu como um fenômeno que se expandiu nas últimas décadas, o que acabou empobrecendo nosso idioma por dois motivos: primeiro, porque acrescentamos palavras que não são necessárias, mas que, de alguma forma, acreditamos deixar o conteúdo mais bonito, mais crível, mais inteligente; segundo, porque muitas traduções são, na verdade, péssimas traduções. O resultado é uma mistura de um inglês medíocre com um português ¿meia-boca¿.

Muito embora pareça uma conclusão radical, fato é que o descaso com nosso idioma e com o que ele representa na nossa cultura incentiva esses fenômenos. Possivelmente, o português como conhecíamos deixará de existir. A questão é: a troca será vantajosa?

Se o português assume um papel de inclusão social, qual seria o nosso papel, no exercício das atividades como magistrados, servidores, advogados, professores universitários, estudantes de direito, estagiários, residentes, mestrandos e doutorandos? Talvez o de manter a língua portuguesa viva, da forma mais correta possível.

Se a carreira que escolhemos exige que a comunicação, além de técnica, seja clara e objetiva, devemos atentar-nos com os vocábulos, a sintaxe, as vírgulas, a ortografia, a etimologia, e assim por diante.

É um compromisso que assumimos, seja no ambiente de trabalho, seja no nosso dia a dia, de falar e escrever o português de modo, no mínimo, responsável.

Que em 2021 consigamos nos comunicar adequadamente para preservar esse tesouro cultural que é o nosso idioma.

Elaboração
Patrícia Corazza