Dicas financeiras

Voltar O poder dos juros compostos

Juros compostos são a oitava maravilha do mundo. Aquele que entende, ganha. Aquele que não entende, paga. Esta impactante frase, atribuída por muitos a Albert Einstein (embora sem prova documental), representa bem a importância do tema que trataremos nesta dica, sobretudo para quem busca uma vida financeira sólida e tranquila.

Muitos entendem os juros compostos como algo técnico ou complexo, exclusivo das ciências econômicas. No entanto, eles estão presentes em nosso dia a dia, seja na rentabilidade de investimentos (lado positivo) ou no aumento do saldo devedor de dívidas ou obrigações, em especial de empréstimos e financiamentos (lado negativo). Por isso a importância de compreendermos o que eles significam e podermos aproveitar seus benefícios em nossa vida financeira.

Mas, afinal, o que são os juros compostos, e qual a diferença entre eles e os juros simples?

Conceitualmente, os juros compostos nada mais são do que os juros incidentes sobre os próprios juros. Enquanto os juros simples são calculados sempre em cima de um valor principal, nos juros compostos, os juros são calculados sobre o último valor corrigido (juros sobre juros). Veja o comparativo:

                    JUROS SIMPLES:

JUROS COMPOSTOS:

Crescimento estável e linear do valor principal

Crescimento exponencial do valor por ser juros sobre juros

Os juros incidem somente sobre o capital investido

Os juros incidem sobre o capital investido, mais o que já rendeu

Não há juros sobre o saldo acumulado

Há juros sobre o saldo de juros acumulados

M=C 1+i∙t 

M=C 1+it

Em ambas modalidades de juros, os elementos fundamentais que compõem o cálculo para se chegar ao montante final (M) são três:

  • Capital (C): é o valor inicial investido (no caso de aplicações financeiras) ou da dívida (nas hipóteses de financiamentos ou empréstimos);
  • Taxa (i): é a rentabilidade estipulada na negociação;
  • Tempo (t): é o período dentro do qual aquela aplicação (capital) ficará sujeito à taxa contratada.

Perceba que, dentro da análise dos juros compostos, apesar do capital inicial (valor aplicado) ser muito importante, o elemento tempo é, sem sombra de dúvidas, o pilar mais importante. É por conta dele que um aporte inicial pequeno é capaz de se multiplicar por diversas vezes. Quanto maior for o tempo em que determinado valor for submetido à incidência de juros, maior será o retorno ao investidor.

Aqui fica um alerta! Muitos investidores, ávidos por retornos rápidos, buscam taxas elevadas, correndo riscos maiores, e se esquecem de que, efetivamente, a paciência e o tempo serão seus maiores aliados na jornada de seu crescimento patrimonial.

Charlie Munger, uma das grandes mentes do mercado financeiro do século XX e braço direito do megainvestidor Warren Buffett, citado por Tiago Reis e Jean Tosetto (2017), adverte que o poder dos juros compostos não deve – nunca – ser interrompido desnecessariamente. [...] É preciso ser paciente diante de um investimento de longo prazo.

 

A relação entre os juros compostos e a renda passiva

Em nossa dica financeira anterior apresentamos os conceitos de renda ativa (recompensa financeira resultante do esforço no trabalho) e de renda passiva (rendimento financeiro resultante de ativos ou investimentos).

Nesse contexto, os valores recebidos como renda passiva têm um papel fundamental no crescimento dos juros compostos, desde que sejam utilizados como novos aportes.

Tiago Reis e Jean Tosetto (2017) elucidam que:

Os juros compostos representam um mecanismo poderoso de geração de riqueza no longo prazo, pois acumulam sobre o valor do capital principal e também sobre os juros já acumulados em um investimento.

O efeito multiplicador dos juros compostos atua no mercado financeiro quando o investidor utiliza o recebimento de proventos na forma de dividendos e juros sobre capital próprio para comprar mais ativos geradores de renda passiva.

Quem utiliza a renda passiva para cobrir despesas pessoais, por exemplo, deixa de ser beneficiado pela força dos juros compostos.

 

Portanto, o reinvestimento dos valores recebidos como renda passiva possibilita ampliar significativamente os rendimentos que antes dependiam apenas de aportes específicos.

 

Como potencializar o crescimento dos juros compostos?

Para Felipe Tadewald e Jean Tosetto (2021), a disciplina e a paciência são os atributos mais importantes do investidor. E prosseguem:

Se você, hoje, ainda tem um patrimônio muito pequeno, que parece não evoluir e às vezes te desanima, não desista e saiba que isso é extremamente comum. Nos primeiros anos, a evolução é bem lenta, principalmente quando os aportes são pequenos. Porém, conforme os anos e décadas passam, a bola de neve começa a fazer efeito e o bolo vai ficando cada vez maior, gerando também dividendos cada vez maiores.

Você só precisa seguir em frente, tendo disciplina e a paciência de esperar para colher os resultados, sempre tendo em mente que é um caminho demorado, mas extremamente recompensador.

 

Aliado à disciplina (que aqui pode ser compreendida como a constância na realização dos aportes), o reinvestimento dos valores recebidos como renda passiva é peça-chave para o crescimento dos juros compostos. Nessa linha, observe o gráfico abaixo, que exemplifica, por meio da análise de ações de uma instituição financeira, a importância do reinvestimento. Ao analisar o exemplo, lembre-se que retornos passados não representam retornos futuros:


 

Gráfico mostra a evolução de patrimônio gerada pelas ações do Bradesco, em caso de reinvestimento dos dividendos (linha superior - azul) e sem reinvestimento dos dividendos (linha intermediária - cinza) em comparação com o desempenho do Ibovespa (linha inferior - vermelha) entre 1995 e 2017. [fonte: Economatica]

Importante registrar que o reinvestimento das quantias recebidas pode ser realizado em diferentes ativos financeiros, tanto de renda fixa quanto de renda variável. Por exemplo, há títulos públicos do Governo Federal, no Tesouro Direto, atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que pagam juros semestrais aos seus titulares. Igualmente, ainda dentro da renda fixa, existem debêntures que pagam juros mensais, semestrais ou anuais aos investidores. Na renda variável, ações e fundos imobiliários remuneram os seus detentores via proventos, dividendos, juros sobre capital próprio e bonificações.

De todo modo, a verdade é que até mesmo um simples CDB (Certificado de Depósito Bancário) traz ao seu titular os benefícios dos juros compostos caso carregado até o seu vencimento.

Lembre-se que, antes de investir, é preciso estudar muito sobre o ativo que você pretende adquirir, conhecendo suas características e sobretudo seus riscos. E não esqueça de verificar se o ativo se enquadra no seu perfil de investidor (conservador, moderado ou arrojado), já que os produtos financeiros com maior risco devem ser evitados por investidores com perfil conservador.

 

Os juros compostos na prática

Já mencionamos que o tempo é nosso maior aliado quando falamos em investimentos. No gráfico abaixo, podemos comprovar que quanto antes você começar, maior será o benefício dos juros compostos a seu favor!

Para se ter uma ideia deste benefício, veja abaixo quais seriam as aplicações mensais necessárias para se alcançar, aos 65 anos de idade, o tão sonhado um milhão de reais investidos, considerando uma rentabilidade de 8% ao ano.


Fonte: Moneytimes

 

A matemática dos juros compostos nos mostra que, para alcançar um milhão de reais, quem começar a investir aos 25 anos de idade necessitará manter aportes mensais de aproximadamente R$ 308,00 (durante 40 anos), enquanto que, a pessoa que iniciar com 40 anos de idade (e que contribuirá durante 25 anos), precisará dispor mensalmente de pouco mais de R$ 1.000,00. Ou seja, como mencionado no texto, o tempo é o principal ponto, uma vez que, quanto antes iniciado, permite que valores menores aportados regularmente levem ao mesmo montante final, bem como, é o potencializador da taxa de juros, (veja o capital investido e os juros compostos acumulados), conforme pode ser observado na tabela:

INÍCIO DOS APORTESCOM 25 ANOS

INÍCIO DOS APORTES COM 40 ANOS

Aportes mensais: R$ 308,47

Aportes mensais: R$ 1093,09

Tempo: 40 anos (480 meses)

Tempo: 25 anos (300 meses)

Taxa juro: 8 % aa (0,67% am)

Taxa juro: 8 % aa (0,67% am)

Montante alcançado: R$ 1.089.417,68

Montante alcançado: R$ 1.046.340,62

Capital investido: R$ 148.065,60

Capital investido: R$ 327.927,00

Juros Compostos: R$ 941.352,08

Juros Compostos: R$ 718.413,62

Obs.: valores utilizados apenas para fins de simulação e comparação.                       

Registre-se que, em junho de 2022, a taxa básica da economia, a Taxa SELIC, está no patamar de 12,75% ao ano, o que exigiria menos recursos para se chegar à cifra desejada. Atente-se, no entanto, que, em 2020 e 2021, a mesma Taxa SELIC chegou a patamares próximos a 3%.

Mas atenção! Isso não significa que não valha a pena começar a formar a sua reserva a partir dos 60 anos, por exemplo! Em matéria de investimentos, nunca é tarde para começar, e todo aporte é bem-vindo!

Conclusão

Faça como os grandes investidores e utilize os efeitos dos juros compostos em seu benefício! O tempo, a paciência, a disciplina e, principalmente, o reinvestimento dos juros recebidos serão seus maiores aliados!

E não esqueça: na hora de investir, busque o auxílio de um profissional credenciado!

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Elaboração:
Kellen Cristina Ruberti
Leandro Ambros Gallon
Marcelo Dias e Silva
Equipe do Programa de Educação Financeira
 
 
 
Referências:
 
OLIVEIRA, Alexandre. Juros compostos: Em 3 gráficos, a prova da maior força das finanças pessoais. Moneytimes. 25 ago 2018. Disponível em: <https://www.moneytimes.com.br/juros-compostos-em-3-graficos-a-prova-da-maior-forca-das-financas-pessoais/>. Acesso em: 14 jun. 2022.
 
REIS, Tiago. TOSETTO, Jean. Guia Suno Dividendos: a estratégia para investir na geração de renda passiva. 1. ed. São Paulo: Editora Vivalendo. 2017.
 
REIS, Tiago. Lições de valor com Warren Buffett e Charlie Munger: ensinamentos para quem investe em Bolsa com foco no longo prazo. 1. ed. São Paulo: Editora Vivalendo. 2020.
 
TADEWALD, Felipe. TOSETTO, Jean. Investir é uma jornada. 1. ed. São Paulo: Editora Vivalendo. 2021.