Dicas financeiras

Voltar Onde investir a reserva de emergência

Se há um assunto importante em tema de educação financeira, ele é, com certeza, a reserva de emergência. Não há como ter um controle mínimo das finanças domésticas sem ela. Tal fatia é o primeiro passo para quem está começando a guardar recursos.

Em dicas anteriores, já escrevemos sobre este relevante instituto. Também já conversamos sobre a reserva emergencial em um dos episódios do nosso podcast. Hoje, contudo, daremos um enfoque mais prático, direto e objetivo, especificamente nos principais produtos voltados à formação desta parcela patrimonial.

Como o próprio nome sugere, é fundamental que toda a pessoa tenha parte do seu capital disponível para suportar fatos da vida imprevisíveis e não cobertos por seguro: perda de cargo ou função; períodos de desemprego; avaria residencial; necessidade de tratamento médico ou cirurgia emergencial; ajuda financeira a familiar; acidente de trânsito; atendimento veterinário urgente; mudanças de cidade, estado ou país; viagem em caráter emergencial; entre outros.

As melhores alocações devem possuir ao menos três características:

a) alta liquidez (ou liquidez diária): significa a rapidez com que os valores estarão disponíveis ao investidor. A disponibilidade precisa ser imediata justamente diante do evento emergencial;

b) baixo risco (alta segurança): ter cobertura pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e estar depositada em instituição bancária com sólida saúde financeira (isto é, alto índice de Basileia);

c) rentabilidade de mercado: a fatia destinada à reserva de emergência não é o local para buscar alta rentabilidade. Aqui, o parâmetro é a taxa básica de juros da economia, a taxa Selic.

A respeito do numerário necessário para compor a reserva, a maioria dos estudos sobre o tema sugere que a quantia guardada represente de seis a doze meses o custo de vida mensal do indivíduo, ou seja, uma pessoa com gastos mensais de dez mil reais deve possuir, em teoria, uma reserva de emergência entre sessenta e cento e vinte mil reais.

Mas, afinal, quais são os locais ideais em que o investidor deve direcionar os seus aportes?

1) Tesouro Selic

É a opção mais segura (com menor risco). Isso porque, no Tesouro Selic, o investidor. Ao comprar títulos públicos federais, está, na prática, emprestando dinheiro à União, instituição de arrecadação trilionária e autorizada pela Constituição a emitir moeda.

A liquidez é diária, porém apenas para pedidos de resgates efetuados até as 13h, em dias úteis. Após esse horário, o dinheiro ficará disponível na conta no dia útil seguinte.

A rentabilidade é de 100% do CDI.

Já abordamos, em dica financeira intitulada “Como investir em renda fixa/ - Parte 1”, os investimentos no Tesouro Direto, nos CDBs e na poupança.

Incide imposto de renda sobre o lucro obtido com a aplicação no Tesouro Selic, em alíquota regressiva, de modo que quanto mais tempo o investimento ficar depositado, menor é a alíquota:


A tributação acima aplica-se integralmente aos Certificados de Depósito Bancários (CDBs), nossa próxima sugestão.

Caso queira se aprofundar, já escrevemos sobre o Tesouro Direto, tema que também já foi objeto do nosso podcast.


2) Certificados de Depósito Bancários (CDBs) com possibilidade de retirada no mesmo dia (ou seja, com liquidez diária)

De maneira mais simples, se no Tesouro Selic o indivíduo empresta dinheiro à União, ao comprar um CDB, o cliente está emprestando dinheiro à respectiva instituição bancária.

Fonte: Toro Investimentos/reprodução

Vale reforçar que o CDB tem que possuir liquidez diária. Destacamos isso porque, existem CDBs com prazos de vencimento futuros (normalmente com maior rentabilidade) e, neste caso, o investidor só terá acesso aos recursos após tal período, o que não é recomendável se o valor for destinado a compor parcela da reserva de emergência.

No que toca ao resgate, é preciso verificar as regras da sua instituição bancária. Via de regra, pedidos efetuados até as 14h, em dias úteis, ficam disponíveis no mesmo dia. Após esse horário, apenas no dia útil seguinte.

Quanto à rentabilidade, destaca-se que o parâmetro deve ser o do Tesouro Selic, ou seja, 100% do CDI. Na prática, contudo, é comum que maiores bancos do país ofertem CDBs com taxas de 80% a 90% do CDI.

3) Letras de crédito imobiliário ou do agronegócio (LCIs ou LCAs) com liquidez diária

Trata-se de títulos que são emitidos por instituições financeiras objetivando financiar programas do setor imobiliário e do agronegócio, respectivamente.

As LCIs e LCAs são isentas da tributação do imposto de renda. Mesmo assim, o investidor precisa ficar atento ao percentual da LCI ou LCA ofertado pelo banco. Isso porque, por exemplo, uma LCI que remunere a 75% do CDI, mesmo isenta de imposto de renda, pode retornar menos do que um CDB de 100% do CDI no qual incide imposto de renda sobre o rendimento.

Para verificar se vale a pena uma LCI em comparação com um CDB, há diversos sítios gratuitos possibilitando a conversão, como o disponibilizado no seguinte link: https://clubedospoupadores.com/calculadora-percentual-cdi.

Cumpre reforçar, por se tratar de reserva de emergência, a necessidade de que a LCI e/ou a LCA possuam liquidez diária. Tal ressalva é importante porque é comum encontrar no mercado, por exemplo, uma LCI com carência de noventa dias. Neste caso, o consumidor precisa estar ciente de que não disporá dos recursos dentro deste lapso temporal.

Para mais detalhes sobre as LCIs e LCAs, acesse a nossa dica financeira intitulada “Como investir em renda fixa – Parte 2”.

4) Fundos de investimento em renda fixa com liquidez diária

É possível compor uma reserva de emergência investindo em fundo de investimento. Já escrevemos com profundidade sobre os principais aspectos dos fundos em dica anterior.

No tema de hoje, repisa-se que o fundo deve possuir liquidez diária (ou conter o código D+0). Ao optar por esta modalidade, cumpre verificar qual a taxa de administração cobrada pela gestora do fundo (dica: por possuir baixo risco e simples administração por parte da gestora, há diversos fundos no mercado com taxa zero de administração).

Quanto à rentabilidade, existem centenas de fundos de investimento em renda fixa com estas características, cada qual com rentabilidade própria, que deve ser aferida pelo investidor na hora de investir. A maioria dos fundos, porém, segue a taxa Selic (ou seja, rendem 100% do CDI).

Acesse, também, a conversa que tivemos sobre fundos de investimento em nosso podcast.

5) Poupança

A poupança, sem dúvida, é o meio mais simples para a alocação da reserva de emergência. Já escrevemos sobre ela em dica financeira anterior, intitulada “Poupança: prós e contras”, tema que também abordado em um episódio do nosso podcast.
As maiores vantagens da poupança são a altíssima liquidez (por conta da possibilidade de resgate dos valores em finais de semana e feriados), a isenção do imposto de renda e a simplicidade (o recurso é aplicado em conta bancária adicional).

O investimento em poupança é seguro. A Constituição veda o seu confisco. E, em caso de insolvência financeira da instituição bancária na qual depositada a poupança, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) protege também tal numerário, até o limite de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) por CPF.

Quanto à rentabilidade, a poupança, além de render somente a cada trinta dias (as outras opções rendem diariamente), pode alcançar no máximo 70% da taxa Selic (lembrando que a rentabilidade da poupança está atrelada ao patamar da Selic: se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento será de 0,5% ao mês, mais TR; se abaixo, será de 70% da Selic, mais TR).

Portanto, a poupança possui duas claras desvantagens: rentabilidade abaixo do mercado e correção apenas após decorridos trinta dias.

6) Contas remuneradas

Nesta modalidade, o cliente deixa o valor em uma conta, que é remunerada diária ou mensalmente. Cada instituição financeira possui regras próprias de remuneração. Via de regra, a rentabilidade vai crescendo à medida que aumenta o tempo do recurso na conta.

Caso queira se aprofundar e saber quais as instituições que oferecem a conta remunerada, e as respectivas características, acesse este estudo intitulado “Contas remuneradas prometem até 100% do CDI no saldo parado: entenda como funcionam para evitar ciladas”.

E aí? Achou o conteúdo interessante? Quer saber mais? Não se esqueça: busque o auxílio de um profissional credenciado para tratar de produtos financeiros, e, se desejar, agende conosco uma conversa agradável sobre qualquer tema relacionado à educação financeira!

Para agendar atendimento exclusivo e reservado com a equipe do Programa ou sugerir conteúdo para nossas ações, mande o seu e-mail para educacaofinanceira@tjsc.jus.br.

Elaboração:
Leandro Ambros Gallon
Equipe do Programa de Educação Financeira
E-mail: educacaofinanceira@tjsc.jus.br

Referências:
CERBASI, Gustavo. Investimentos inteligentes: para conquistar e multiplicar o seu primeiro milhão. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.

MENESES, Amanda. Índice de Basiléia: entenda como calcular o risco de investir em um banco. 8 abr. 2023. Disponível em: <https://investnews.com.br/guias/indice-de-basileia/>. Acesso em: 16 ago. 2023.

NIGRO, Thiago. Do mil ao milhão: sem cortar o cafezinho. 1. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018.
Reserva de emergência: o que é, quanto e onde investir para montar? Toro CTVM Ltda. 17 jul. 2023. Disponível em: <https://blog.toroinvestimentos.com.br/investimentos/reserva-de-emergencia>. Acesso em: 16 ago. 2023.

SUTTO, Giovanna. Contas remuneradas prometem até 100% de CDI no saldo parado: entenda como funcionam para evitar ciladas. XP Inc. 10 out. 2022. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/contas-remuneradas-prometem-ate-100-de-cdi-no-saldo-parado-entenda-como-funcionam-para-evitar-ciladas/>. Acesso em: 17 ago. 2023.