'Tenho amigas que não têm como comprar absorventes e não pedem aos professores', diz adolescente - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina

• Dignidade humana

Há um tabu quando se fala - e quando não se fala - de menstruação e é preciso quebrá-lo. Esta é a opinião da adolescente Júlia de Oliveira Alves, de 15 anos, e da juíza Flávia Maéli, titular da Vara da Família na comarca de Biguaçu. As duas se encontraram na Escola Professora Olga de Andrade Borgonono, no bairro Bom Viver, na tarde desta quinta-feira (31/3), em mais uma ação da campanha "Dignidade Menstrual", organizada pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (Cevid) e pela Diretoria de Saúde do TJSC. 

“Tenho amigas que não têm como comprar absorventes, não pedem aos professores e não falam com os pais por vergonha”, diz Júlia. “Eu não tenho receio de falar disso porque é algo normal, de todas as mulheres, e sobre o qual minha mãe e eu conversamos abertamente.”

Segundo a juíza Flávia, a pobreza menstrual é um assunto multidisciplinar que precisa de uma abordagem plural, e o primeiro passo é debatê-lo. “Mais importante do que a doação em si é dar visibilidade a um tema que diz respeito a vários direitos fundamentais - saúde, educação, acesso à informação e igualdade de gênero”, afirma.  

Ana Paula Medeiros e Silva Vicente, assistente social da Secretaria de Educação de Biguaçu, afirmou que a ação do TJ instigou o município a investigar nas escolas o tamanho desta demanda. “Foi interessante porque descobrimos que, aqui no colégio, já havia uma ação semelhante, e agora vamos ampliá-la para outras escolas.” A ação de doar absorventes às alunas já é realizada pela escola e partiu de um projeto desenvolvido pela professora de Ciências, Iracema de Souza Maia, doutora em Engenharia Ambiental. 

Nesta quinta-feira, foram doados à escola, na ação do TJSC, 3.360 absorventes. Desde segunda, já são mais de 40 mil doações em várias partes do Estado. Participaram do evento Eva Anilda Silveira, diretora da escola; Mônica Conrradi, diretora de Ensino da Secretaria Municipal da Educação; Michelle de Souza Gomes Hugill, secretária da Cevid; e outras mulheres que integram a rede de educação e de saúde do município.

Comarca de Turvo destina entrega para Clube de Mães

A comarca de Turvo também promoveu nesta quinta-feira (31) uma entrega da campanha “Dignidade Menstrual” do TJSC. A entidade beneficiada com os absorventes arrecadados foi a Associação do Clube de Mães do município-sede da comarca. As doações foram entregues pela assistente social da comarca de Turvo, Luciane Neitzel Friedrich, para a secretária da Assistência Social, Elenita Scarabelot Pazini; a primeira-dama, Rosani Zanetti Cirimbelli; e a vice-primeira-dama do município, Denise Feltrin Fávaro. Todas parabenizaram a iniciativa e informaram que os donativos serão distribuídos para as usuárias do grupo prioritário do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). 

“A pobreza menstrual é vivenciada por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento sobre o período menstrual”, explicou a secretária municipal. Elenita enalteceu a campanha do Poder Judiciário e demais parceiros, que busca contribuir para a melhoria dessa situação que impacta a vida de muitas meninas e mulheres.

Foram arrecadados 102 pacotes de absorventes com 8 ou 16 unidades, que serão distribuídos para famílias em situação de vulnerabilidade que moram em Turvo e são atendidas nos serviços de assistência social do município. “A campanha foi muito interessante, pois trata de um assunto que é tabu ainda em nossa sociedade, mas é uma necessidade que atinge as mulheres, principalmente aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade social”, explicou a assistente social. 

Além do engajamento dos servidores da comarca, com apoio e incentivo do magistrado da comarca, juiz Manoel Donizete de Souza, a campanha contou com a parceria do CRAS do município, CDL, Subseção de Turvo da OAB/SC , supermercado Niko's e SuperCooper.

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