Inédito no Brasil, projeto do TJ que mobilizou milhares de estudantes distribuiu prêmios nesta terça - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina
Iniciativa teve como objetivo falar com os jovens, de forma simples e atrativa, sobre violência doméstica
- Prêmio
Quando duas potências se juntam – a favela e o Tribunal de Justiça – num projeto como este, de conscientização e de prevenção da violência doméstica, fica claro que é possível fazer grandes e positivas transformações na sociedade. Esta fala, emblemática, foi dita por João Paulo Malara, nascido na periferia e hoje CEO da New School, durante a entrega do prêmio “O Cuidado Transforma”.
O projeto desenvolvido entre o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) e a startup New School, que mobilizou milhares de jovens no Brasil num mix de curso, série e jogo, distribuiu prêmios aos vencedores nesta quinta-feira (3/10). A solenidade ocorreu na sala Desembargadora Thereza Tang, na sede da Corte, e contou com a presença de dirigentes do TJ, servidores, autoridades de outras instituições e, claro, dos estudantes, os protagonistas do evento.
Inovadora, a ideia surgiu de uma inquietação: como falar com os jovens, de forma simples e atrativa, sobre violência doméstica? Como sensibilizá-los para uma questão tão importante e difícil? Uma junção de conhecimentos e de áreas trouxe a solução e criou “O Cuidado Transforma”, um case de sucesso que já conquistou o reconhecimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foi escolhido para ser apresentado em evento nos Estados Unidos e rendeu reportagens em veículos nacionais e internacionais.
Na linha de frente do projeto estão a Assessoria de Planejamento (Asplan), a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid) – ambas do TJ – e a New School. Funciona assim: sem custo nenhum, o participante baixa o aplicativo e faz o curso online, em forma de série ficcional, com enredo ágil e didático sobre relacionamentos abusivos e violência de gênero. É curso, é série, e também é um jogo no qual os participantes concorreram a 252 prêmios, entre eles Iphone 12, Xbox 360, bicicleta, skate e chuteira. São as iscas para atrair a atenção e o interesse dos jovens.
Uma das vencedoras foi Helena de Melo Moraes, de 16 anos. “Com o curso, entre outras coisas, entendi que há diversas formas de violência, entre elas a psicológica, e que não é necessária a violência física para caracterizar um relacionamento abusivo”, diz. Helena é uma dos 1.343 estudantes que receberam o certificado de conclusão do curso em Santa Catarina.
Na fala de abertura, a coordenadora da Cevid, desembargadora Hildemar Meneguzzi de Carvalho, disse que “o evento marca um momento muito especial, no qual se reconhece o engajamento de jovens, professores, diretores e toda a comunidade escolar em um projeto que busca não apenas a conscientização, mas a transformação social”.
A coordenadora apresentou dados atuais sobre a violência doméstica em Santa Catarina. “Aqui no Estado, apenas de janeiro a agosto deste ano, mais de 20 mil medidas protetivas foram analisadas pelos nossos juízes e juízas”. A desembargadora finalizou enaltecendo os participantes, em grande parte provenientes de escolas públicas. “Vocês mostraram que estão dispostos a fazer a diferença, vocês são os verdadeiros protagonistas dessa mudança e demonstram, ao participar do curso, uma consciência que nos enche de esperança”.
Esperança foi a palavra destacada por João Paulo Malara, o CEO da New School. De improviso, numa sequência de frases certeiras e carregadas de entusiasmo, ele falou da própria trajetória, contou da infância na periferia, da mãe que trabalhava como empregada doméstica e do momento em que decidiu criar a startup. “Quando duas potências se juntam – a favela e o Tribunal de Justiça – num projeto como este, de conscientização e de prevenção da violência doméstica, fica claro que é possível fazer grandes e positivas transformações na sociedade”, diz João Paulo Malara.
No encerramento, o 1º vice-presidente do TJSC, desembargador Cid Goulart, representando o presidente Francisco Oliveira Neto, também ressaltou a importância das parcerias entre organizações locais e autoridades e afirmou: "Ao educar e conscientizar os nossos jovens, esperamos criar um impacto duradouro na redução da violência doméstica, construindo um futuro mais seguro e inclusivo para todos".
Por fim, o momento mais esperado, a entrega dos prêmios. A desembargadora aposentada Salete Sommariva, uma das vozes mais importantes na luta contra a violência doméstica em Santa Catarina, acompanhou a solenidade e participou da entrega dos prêmios. “Estes momentos mostram que estamos no caminho certo e renovam a nossa esperança”, disse.
Ao longo de todo o processo, segundo a Cevid, alguns parceiros se destacaram: a comarca de São José foi uma das mais engajadas, especialmente pela atuação do Grupo Emfrente e a da Secretaria de Educação de São José, na sensibilização das escolas e estudantes para participarem. A Faculdade Anhanguera também teve papel decisivo e liberou a professora Cristiane Cordeiro Machado para palestrar nas escolas, divulgando o curso, ao lado da servidora Grace Machado do Juizado da Violência doméstica de São José.
Além dos citados, entre outras autoridades, estiveram presentes o corregedor-geral da Justiça, desembargador Luiz Antônio Zanini Fornerolli; o 2º vice-presidente do TJ, desembargador Júlio César Machado Ferreira de Melo; o corregedor-geral do Foro Extrajudicial, desembargador Artur Jenichen Filho; a juíza auxiliar da Presidência Maira Salete Meneghetti; e o juiz-corregedor Raphael Mendes Barbosa. Representantes da Secretaria de Educação do Estado, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC), Ministério Público do Estado, Defensoria Pública do Estado e Polícia Civil de Santa Catarina também prestigiaram o evento.