TJSC celebra séculos de saber, histórias e inovação no Dia Nacional da Biblioteca - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina
Com relíquias, lançamentos e serviços digitais, Biblioteca Des. Marcílio Medeiros valoriza cultura jurídica
- Cultura
Para quem é movido pela curiosidade e gosta de ler, não há lugar mais fascinante do que uma biblioteca. Não são apenas livros organizados em prateleiras — são séculos de saber e de histórias, fruto do empenho de homens e mulheres unidos pela vontade de registrar e compartilhar beleza e conhecimento. Esses espaços merecem visibilidade e homenagens sempre, mas de maneira especial nesta quarta-feira, 9 de abril, Dia Nacional da Biblioteca — data importante para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), guardião de um dos maiores e mais atualizados acervos de obras jurídicas do sul do país.
São cerca de 40 mil livros e periódicos, incluídos títulos de literatura, filosofia, história de Santa Catarina e outros temas que ultrapassam os muros do direito. A Biblioteca do Judiciário existe desde 1891, época em que o então denominado Superior Tribunal de Justiça de Santa Catarina funcionava na Casa da Câmara e Cadeia e Conselho da Intendência Municipal, em frente à Praça XV de Novembro, no centro da capital. De lá para cá, a Justiça estadual teve oito sedes — e a biblioteca, em todas elas, manteve-se aberta e ativa.
Mesmo durante a recente reforma de suas dependências, iniciada em dezembro de 2023 e finalizada nove meses depois, a biblioteca não suspendeu os serviços ao transferir-se provisoriamente para o térreo da Torre II. Foi reinaugurada em 1º de outubro de 2024, dia em que o TJ celebrou 133 anos. Na ocasião, o novo espaço do Museu do Judiciário, ao lado da biblioteca, no hall de entrada da sede, também foi inaugurado. Não por acaso, as inaugurações e o lançamento coincidiram com o aniversário.
“O objetivo é ser um espaço integrado de valorização da memória, uma vez que tanto o museu quanto a biblioteca desempenham papéis importantes na preservação e transmissão do conhecimento, da cultura e da história. Juntos, ajudam a construir a memória do Judiciário catarinense de forma rica, diversa e acessível”, pontua Camila Bessa, chefe da Divisão de Memória e Biblioteca.
Para a desembargadora Haidée Denise Grin, presidente da Comissão de Gestão de Memória do Poder Judiciário catarinense, “museu e biblioteca traduzem o compromisso da Justiça catarinense com a preservação da memória e com o conhecimento, dois pilares fundamentais da instituição ao longo destes 133 anos”.
Desde 1985, por sugestão de servidores, a biblioteca ganhou nome próprio e passou a se chamar Biblioteca Desembargador Marcílio Medeiros. Leitor assíduo, entusiasta da literatura e frequentador do espaço, o magistrado foi o responsável por permitir o acesso dos estudantes à biblioteca. E eles não pararam de vir. Com sede no TJ, a biblioteca tem unidades setoriais na Academia Judicial, em Chapecó, Joinville, Orleans e Tubarão.
Relíquias
Quem visita o espaço pela primeira vez costuma se surpreender com a quantidade de obras recém-lançadas. Os bibliotecários realizam uma pesquisa constante junto às editoras de direito, acompanham modificações legislativas, identificam temas e autores em evidência e monitoram os lançamentos. A partir desse cruzamento de informações, selecionam os títulos que integrarão o acervo.
Para se ter uma ideia, somente em 2024 a biblioteca recebeu 760 novos exemplares entre aquisições e doações. Mas, se há tantos livros novos, há também preciosidades antigas em uma sala com três mil exemplares entre obras raras e especiais do século 19 e do início do século 20. Esse costuma ser o segundo impacto de quem visita o local.
Entre essas relíquias, há uma coleção da legislação portuguesa de 1825. Desse mesmo ano, encontra-se um exemplar em francês de "Teoria das Penas e das Recompensas", de Jeremy Bentham e Étienne Dumont. A sala que abriga as obras é climatizada a 18 °C, com controle de umidade e estantes deslizantes — cuidados próprios de quem sabe o valor da memória impressa.
Delivery
Onde passado e presente convivem lado a lado, um complementa o outro — e ainda há espaço para inovação: uma das mais bem-sucedidas foi o serviço de delivery, o DeLivros, criado durante a pandemia como forma de fomentar e facilitar o empréstimo de obras. Magistrados e servidores efetivos ou comissionados, lotados no TJ e no Fórum Central da Capital, podem solicitar livros e periódicos por WhatsApp (48 3287-2444) ou e-mail. O material é entregue diretamente na sala do requisitante.
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca”, disse o escritor Jorge Luis Borges — ele foi diretor da Biblioteca Nacional da Argentina por 18 anos. Em um espaço que reúne memória, saber e acesso à cultura, a frase faz ainda mais sentido. Aliás, o acesso pleno à Justiça passa, também, pela democratização do conhecimento — e por lugares silenciosos onde as ideias se multiplicam.