Dicas financeiras

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As ações são, sem dúvida, um dos temas mais palpitantes e polêmicos do mundo dos investimentos. Quem nunca ouviu uma estória de um conhecido que perdeu todo o patrimônio da família “aplicando” em ações? Ou de que “bolsa de valores é cassino”? Pois bem. A nossa missão aqui é desmistificar essa importante classe de ativos e mostrar que, ciente dos riscos, da visão de longo prazo e respeitado o perfil do investidor, as ações podem ser responsáveis diretas por uma positiva evolução patrimonial.

Nesta visão geral sobre um assunto tão amplo, abordaremos o conceito, a regulamentação, as principais características, os riscos, a importância da visão de longo prazo e, claro, como comprar e vender uma ação.

Conceito e regulamentação

Na visão de Thiago Nigro (2018, p. 132), as ações são “um tipo de investimento que representa o capital social de uma companhia. Basicamente, o mercado acionário é uma alternativa que uma empresa tem para se financiar e expandir os seus negócios”.

Portanto, ao comprar uma ação, o investidor precisa ter consciência de que está se tornando parceiro daquela empresa, daquele modelo de negócio.

A Lei ordinária federal n .6.404, de 1976, que dispõe sobre as sociedades por ações, preceitua, em seu artigo 1º, que “a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas”.

Renda variável

Por certo, o que torna o investimento em ações tão interessante e desafiador é a volatilidade, ou seja, a oscilação do seu valor, que ocorre enquanto o pregão da bolsa de valores está em funcionamento (via de regra, as negociações ocorrem nos dias úteis, das 10h às 17h).

Tal oscilação ocorre porque as ações são uma classe de ativos de renda variável. Em dica anterior, já escrevemos sobre outra espécie de investimentos de renda variável, os fundos de investimento imobiliários, também negociados em bolsa de valores.

Gustavo Cerbasi (2008, p. 166) bem esclarece a diferença entre renda fixa e renda variável:

Diferentemente do que acontece nos investimentos em renda fixa, em que o lucro é pactuado entre tomadores e aplicadores durante um prazo conhecido, nos investimentos em renda variável o lucro é determinado pela diferença entre o preço de venda [...] menos o preço de compra. O nome renda variável vem justamente da incerteza em relação aos ganhos futuros, decorrentes da incerteza – ou risco – em relação ao futuro desse tipo de investimento.

Logo, qualquer investimento em renda variável (ações, fundos imobiliários, fundos de agronegócio, fundos de infraestrutura, derivativos, opções, ETFs, BDRs, entre outros) pode oscilar positiva ou negativamente, a depender das expectativas do mercado e do momento em que efetivado o comando de negociação (compra ou venda).

A importância da visão de longo prazo ao comprar ações

Inicialmente, vale destacar que o investimento em ações apenas deve ocorrer após formada a reserva de emergência, sob pena de o investidor ter que vender ações em momento desfavorável do mercado para fazer frente ao custeio de imprevistos.

O analista de renda variável José Falcão (2021) assinala que “o motivo pelo qual a probabilidade de ganhos ao investir a longo prazo é maior é que os ruídos que causam volatilidade de curto prazo são superados e o que fica são os fundamentos das empresas”.

Ademais, um investimento realizado em longo prazo, ou seja, em período maior que dez anos, é capaz de enfrentar diversos ciclos do mercado. Apresenta-se fundamental, também, acompanhar o crescimento da empresa investida, pois resultados constantes e crescentes refletem em maior rentabilidade das ações.

Diversos estudos realizados concluíram que, quanto maior o tempo de investimento em ações, maior a chance de ganhar dinheiro na bolsa. Transcreve-se levantamento feito por Karina Trevizan e Samy Dana (2021):

Sob esse ponto de vista, a chance de o investidor ganhar dinheiro na bolsa após dez anos é de 70% e de 100% após vinte anos.

Formas de comprar ações

Existem três formas muito claras pelas quais o investidor pode adquirir ações. São elas:

  1. comprando ações diretamente em seu homebroker: O homebroker é o painel virtual onde as ações são negociadas. Na conta da corretora de valores, o investidor acessa a opção “renda variável”, abre o painel de negociações, digita o código da empresa desejada (chamado de ticker), e envia a ordem de compra.
  2. comprando um fundo de investimento em ações: Nesta modalidade, o cliente realiza a compra de um fundo de investimento que aplica em ações, chamado de FIA. Em dica financeira específica sobre fundos de investimento, registramos que, ao comprar um fundo, o investidor delega a uma gestora profissional toda a estruturação de investimentos em ações, confiando na sua expertise para obter lucros.
  3. comprando uma ETF de ações: As ETFs (sigla formada pelas palavras em inglês exchange traded funds) nada mais são do que uma cesta que contêm diversas ações. Aqui, em vez de comprar ação de uma única empresa, o investidor compra uma cesta, um grupo de ações, como forma de diversificar a sua carteira, realizando um aporte único. Exemplos de ETFs: BOVA11; IVVB11; etc.

Principais vantagens das ações

Diversos são os benefícios desta classe de ativos. Todavia, vale reforçar a mensagem sempre trazida pelo Programa de Educação Financeira: busque o auxílio de um profissional credenciado para tratar de produtos financeiros! Estude as características, vantagens e riscos de cada investimento, e verifique se estão alinhados à sua estratégia pessoal.

Os principais benefícios das ações são:

  1. simplificação: é muito simples comprar uma ação via homebroker e verificar o seu valor com o passar do tempo;
  2. baixos custos: atualmente, boa parte das corretoras não cobra taxas de corretagem na negociação de ativos em bolsa de valores. A gratuidade é algo recente, fruto da concorrência, dado o rápido crescimento no número de corretoras de valores.
  3. recebimento de proventos: a participação no lucro das empresas listadas em bolsa ocorre por meio de crédito nas contas dos acionistas, a título de dividendos e juros sobre capital próprio. Quanto maior o número de ações possuídas, maior o provento a ser recebido. Este é um dos maiores benefícios das ações, pois contribui para a criação de uma nova fonte de renda, na linha do que escrevemos na dica financeira sobre “renda passiva”;
  4. alta liquidez: as ações podem ser negociadas durante o funcionamento dos pregões da bolsa de valores (em dias úteis, das 10h às 17h) e a quantia vendida fica à disposição do titular em, no máximo, três dias úteis.
  5. aplicações de baixos valores: é equivocado o pensamento de que é necessário ter muito dinheiro para investir em ações. Existem ações que custam menos de cinco reais e, para realizar compras de uma a noventa e nove ações, o investidor deve inserir a letra “F” (de fracionário) ao final do código da empresa desejada. Ex.: PETR3F (caso o usuário deseje comprar de uma a noventa e nove ações da empresa Petrobrás S.A.

Os maiores riscos das ações

Existem algumas situações que podem colocar o psicológico do investidor em xeque e, com isso, levá-lo a realizar maus negócios no investimento em ações. Eis os erros mais comuns:

  1. comprar ações sem possuir reserva de emergência: já mencionamos aqui que tal situação obrigará o investidor a vender ações e, muito provavelmente, realizar prejuízos ou ficar fora de grandes valorizações. Ações são investimentos de longo prazo;
  2. concentração do patrimônio em uma só empresa: não é aconselhável que o investidor, por mais convicto que esteja, invista grande parcela de todo o seu patrimônio em uma única empresa. Uma queda abrupta no valor da ação ou um evento não previsto, como uma pandemia ou uma fraude contábil, pode levá-lo a grande prejuízo. Dessa forma, o ideal é a formação de uma carteira diversificada, contendo várias ações ou vários fundos;
  3. comprar ações ou produtos a ela relacionados sem entender o que é a volatilidade: por mais que, na teoria, o investidor entenda que, ao comprar ações, é possível que as cotações caiam significativamente, só a prática, uma boa assessoria financeira e o estudo contínuo é que serão capazes de lhe testar, sobretudo durante um período de crise no sistema financeiro. Por essa razão, o melhor caminho é a conversa com um profissional credenciado e, principalmente, começar com quantias pequenas;
  4. falsa ideia de ganhar dinheiro fácil e rápido (ganância): investir em empresas listadas na bolsa de valores deve ser visto como uma forma de alocação de capital. Em dica financeira intitulada “o poder dos juros compostos”, mencionamos que a estratégia vencedora envolve o fator tempo e a constância dos aportes (aplicações);
  5. utilização de estratégias complexas, como operações com derivativos: de maneira simples, os derivativos são ativos que derivam de um principal. São, por exemplo, opções de compra ou de venda de ações, com vencimento em data futura. Trata-se de estratégia que envolve ganhos – ou perdas – exponenciais. Alguns investidores confiam saber utilizar tal operação e, às vezes, basta uma única ordem malsucedida para lhe reduzir à insolvência.
  6. Day trades: a operação de day trade é aquela na qual a ordem de compra e de venda se encerra no mesmo dia. Aqui, os investidores realizam interpretações de gráficos (chamada análise técnica) com o intuito de tentar antever movimentações das cotações das ações. No entanto, estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizado entre 2013 e 2018, revelou que: 99% dos day traders têm prejuízo no Brasil. Num universo de 98.378 investidores dessa modalidade, só 554 persistiram no day trade por mais de 300 pregões, e só 127 tiveram lucros diários acima de R$ 100. Dessa minoria, apenas 76 tiveram lucro bruto acima de R$ 300. Ou seja, apenas 0,1% realmente vive de day trade.

Com base nos conceitos aqui apresentados, fica claro que, com conhecimento e atualização constante sobre o tema, as ações podem ser uma importante opção de alocação de recursos. Neste sentido, vale destacar que, nos últimos anos, as informações sobre análises de investimentos cresceram sobremaneira no Brasil. Assim, há diversas formas de obtenção de conteúdos de qualidade, seja nas próprias corretoras, nos bancos, em conteúdos assinados por profissionais credenciados no mercado financeiro ou em casas de análise, estas também conhecidas como researchs, a exemplo da Eleven, Dica de Hoje, Empiricus, Levante, Nord, Spiti, Suno, Ticker, entre outras.

Como comprar e vender uma ação?

Como já dito, tratando-se de ativo de renda variável, a sua negociação ocorre na bolsa de valores.

Primeiro, é preciso possuir uma conta em uma corretora de valores (alguns exemplos de corretoras: Banco Inter S.A.; BB Investimentos S.A.; BTG Pactual S.A.; Clear; Nu Invest Holding S.A.; Órama; Rico; Toro Investimentos S.A.; XP S.A.). Atualmente, a grande maioria das instituições financeiras já possui, atrelada ao seu portfólio de produtos, uma corretora na qual negociam ativos de renda variável.

No aplicativo, acessar a aba “renda variável” ou clicar em “investir”. Digite o código (ticker) da empresa desejada. Evidentemente, recomenda-se que primeiro o investidor realize um estudo sobre qual ação/empresa deseja comprar para, somente em seguida, efetivar a compra.

Definida a empresa, é preciso verificar a quantidade de ações a adquirir. O lote padrão contém cem ações. Caso os recursos disponíveis não sejam suficientes para comprar o lote padrão, é possível adquirir menos ações, por meio do “mercado fracionário”. Neste caso, conforme já mencionamos, é necessário inserir a letra “F” após o código. Ex.: BBAS3F.

Ao comprar uma ação, o usuário pode se deparar com uma dúvida entre os finais “3”, “4” ou “11” existentes após o código da empresa. Por exemplo, a empresa Klabin S.A. possui os seguintes códigos: KLBN3, KLBN4 e KLBN11. Comprar KLBN3 significa estar adquirindo ações ordinárias da Klabin S.A. No final KLBN4, compram-se as ações preferenciais. E, por fim, ao digitar KLBN11, compram-se as chamadas units, que são, basicamente, pacotes de ações ordinárias e preferenciais. A diferença básica entre a ação ordinária e a preferencial é que aquela dá direito a voto nas assembleias e esta possui prioridade na distribuição de dividendos, conforme rezam os artigos 16 e 17 da Lei das Sociedades Anônimas.

Por fim, definido o ticker e a espécie de ação a comprar, é preciso lançar um valor passível de negociação. No momento da aquisição ou da venda, o investidor consegue consultar o valor atual da ação no mercado e as quantias das ordens lançadas pelos demais compradores ou vendedores. Ao remate, basta confirmar a compra ou a venda. A comprovação da ordem executada aparecerá em um documento chamado de “nota de corretagem”.

E então? Achou o conteúdo interessante? Quer saber mais? Não se esqueça: busque o auxílio de um profissional credenciado para tratar de produtos financeiros, e, se preferir, agende conosco uma conversa agradável sobre qualquer tema relacionado à educação financeira!

Para agendar atendimento exclusivo e reservado com a equipe do Programa ou sugerir conteúdo para nossas ações, mande o seu e-mail para educacaofinanceira@tjsc.jus.br.

Elaboração:
Leandro Ambros Gallon
Equipe do Programa de Educação Financeira
 
Referências:
ANTUNES, Alexandre. 99% dos day traders têm prejuízo no Brasil, mostra novo estudo da FGV. 8 set. 2020. Disponível em: <https://portaldobitcoin.uol.com.br/99-dos-day-traders-tem-prejuizo-no-brasil-mostra-novo-estudo-da-fgv/>. Acesso em: 13 jul. 2023.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 13 jul. 2023.
CERBASI, Gustavo. Investimentos inteligentes: para conquistar e multiplicar o seu primeiro milhão. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.
DANA, Samy. TREVIZAN, Kamira. Chance de ganhar dinheiro na bolsa passa de 56% em 1 ano para 70% em 10. 17 mai. 2021. Disponível em: <https://investnews.com.br/financas/chance-de-ganhar-dinheiro-na-bolsa-passa-de-56-em-1-ano-para-70-em-10/>. Acesso em: 13 jul. 2023.
NIGRO, Thiago. Do mil ao milhão: sem cortar o cafezinho. 1. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018.