Voltar Coletivo Mulheres na Varanda promove roda de conversa para discutir programa Caixa Postal

O Coletivo Mulheres na Varanda promoveu na noite do último dia 22 de setembro sua primeira roda de conversa sobre o projeto Caixa Postal: Ateliê de Leitura e Escrita. A iniciativa busca impulsionar a leitura literária e a escrita no ambiente carcerário, mais especificamente no Presídio Feminino de Florianópolis.

O projeto se dá com a troca de cartas entre as mulheres em privação de liberdade e as participantes do coletivo, por meio de uma "caixa postal" que leva livros para o ambiente institucional. Essas obras serão lidas e devolvidas juntamente com a produção escrita das mulheres e a interpretação da história, acrescidas dos sentimentos e ideias que a leitura lhes proporcionou.

A Justiça catarinense aprovou o projeto Caixa Postal há pouco mais de dois anos. A decisão que autorizou a iniciativa foi da juíza Paula Botke e Silva, da Vara de Execuções Penais da comarca da Capital. A roda de conversa foi promovida na Biblioteca de Arte e Cultura do CIC, na capital. As Mulheres na Varanda, que integram o coletivo, apresentaram os livros trabalhados nos dois anos da primeira turma do projeto. Através da leitura de trechos anônimos selecionados das cartas enviadas pelas participantes, expuseram alguns dos efeitos da leitura e escrita que puderam ser identificados na troca de correspondências. 

Foram expressas, também, as percepções e análises em relação aos objetivos do trabalho e aos resultados obtidos com o primeiro grupo, com destaque para a interpretação de leitura e a criação de textos. Na roda de conversa, igualmente, houve interesse sobre as formas de operacionalização da remição de pena através do projeto (Resolução n. 391/2021 CNJ), sendo possível realçar a relevância do apoio recebido tanto da juíza Paula Botke e Silva quanto da direção do presídio, uma vez que, cada instância dentro de suas prerrogativas, foram parceiras do projeto desde seu início.

Trecho do relato de uma Varandeira sobre o trabalho:

Nas nossas cartas não se escutam segredos, nem estamos ali para isso – de fato, tanto as nossas cartas quanto as delas circulam abertas. Mas poderia se dizer que rolam confissões. Coisas que se confiam a um outro. A uma outra, neste caso. Através das cartas, testemunhamos muitas histórias. Histórias esquecidas, histórias que se repetem mil vezes, histórias nunca contadas para ninguém, histórias inventadas, histórias que só se escreveram a partir de alguma leitura, de alguma pergunta, de alguma conversa, algo que nunca tinha sido narrado enquanto história. Ao longo do tempo, as histórias vão se entrelaçando, vão compondo um território de memória e constituindo uma memória comum com a interlocutora das correspondências e com o projeto. Muitas das vezes também restitui a trama de uma memória comum a uma comunidade de pertencimento, a uma família, a um território geográfico, a uma raça. É uma retomada do laço social através da escrita dessas histórias. 'Obrigada por ouvir minhas histórias'.

Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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