Voltar Psicólogo cobra vínculos e empatia para melhor ouvir autores de violência contra mulher

O psicólogo e pesquisador Gustavo Vieira Nery disse nesta sexta-feira (18/8) que, para terem sucesso, os Grupos Reflexivos e Responsabilizantes para Homens Autores de Violência contra Mulheres devem estabelecer vínculos com os participantes e estimular que eles falem. "A gente tem que promover este espaço de reflexão (sobre o mal praticado). E para isso acontecer, é importante criar vínculos (...). O que a gente quer nos grupos é que eles (homens) falem".

Nery faz parte do projeto Ágora, criado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2016 para articular esses grupos, previstos em lei. Ele foi um dos palestrantes do curso "Primeiros Passos e Consolidação de Grupos Reflexivos e Responsabilizantes para Homens Autores de Violência contra Mulheres", realizado pela Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid) em parceria com a Academia Judicial do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O evento começou na quinta (17), no auditório do Pleno do TJ, e reuniu dezenas de pessoas que lideram esses grupos, chamadas de facilitadores(as).

Psicólogo e pesquisador Gustavo Vieira Nery.
 

No modelo apresentado por Nery, esses grupos devem ser comandados por dois facilitadores, preferencialmente um homem e uma mulher; reunir no máximo 20 homens; promover encontros com periodicidade semanal (de 10 a 15 deles); ter duração unitária de 90 a 120 minutos; impedir que novos participantes entrem depois da terceira semana (para criar vínculos entre os participantes); e priorizar a espontaneidade, entre outros assuntos. Não é recomendado que esses grupos sejam guiados exclusivamente por palestras com convidados; que ocorra troca excessiva de facilitadores; que adotem perspectivas religiosas; e que sigam modelos de "homens bons".

Sobre as equipes, acrescentou o psicólogo, é interessante que tenham conhecimento em estudos de gênero, que passem por capacitação e que busquem acolher e ter empatia com os participantes, além de saber ouvi-los. Neste momento, destacou Nery, os principais desafios dos grupos são a falta de capacitação técnica e a falta de recursos materiais. Também carecem de uma legislação mais norteadora e de incentivos à participação de facilitadores - muitos fazem trabalho voluntário.

Após esta última palestra, as pessoas foram divididas em quatro grupos para participar na prática de dinâmicas reflexivas. Um dos grupos foi facilitado pelo professor e PhD Ricardo Bortoli, assistente social no munícipio de Blumenau, da FURB e idealizador do primeiro grupo reflexivo para homens do estado de Santa Catarina, antes mesmo da lei Maria da Penha. Ricardo destacou a importância de repensar as masculinidades no processo de se tornar homem, desvinculando-o da violência. "Os homens são parte da sociedade, das famílias e devem estar inseridos nas políticas públicas de saúde e de assistência também. Quando uma violência acontece, devemos nos perguntar onde falhamos enquanto sociedade, enquanto instituições públicas e privadas".

Durante o curso, foi criado um grupo de whatsapp "Projeto Ágora: rede de facilitadores de grupos reflexivos para homens autores de violência", com o objetivo de formar uma rede integrada dos serviços, para trocar experiências, esclarecer dúvidas e produzir conteúdos para auxiliar na criação e manutenção dessas ações. O grupo será supervisionado pela equipe da Cevid/TJSC e pela equipe do projeto Ágora, que é vinculado ao grupo de estudos Margens do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC.

Imagens: Divulgação/TJSC
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

Copiar o link desta notícia.