Visitar museu é ingressar em túnel do tempo: Judiciário viaja para conflito de 1914 - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina
25 Junho 2019 | 07h38min
Visitar museus opera muitas vezes milagres como ingressar em túneis do tempo. No Museu do Judiciário do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por exemplo, a possibilidade de se transportar para a manhã sombria de 26 de setembro de 1914, na cidade de Curitibanos, em plena Guerra do Contestado, é quase concreta. Naquele dia, em meio a fortes chuvas, mais de uma dezena de edificações do município, inclusive o fórum da comarca de Curitibanos, foi incendiada.
Os documentos judiciais conservados no edifício que abrigava o fórum foram alvo daquele ataque. Muitos processos foram atirados para fora do prédio e permaneceram no meio da rua, sob a chuva e na lama, onde foram pisoteados por cavalos que atravessavam a rua em disparada. Pois agora, muito em breve, parte desses documentos, após passagem pela Divisão de Documentação e Memória do Judiciário, para atividades de higienização, identificação e catalogação de documentos judiciais, estará disponível para visitação no Museu do Judiciário.
Outra parcela ainda guarda camadas de lama, marca de patas de cavalo e furos de espada. Datados do princípio do último século, trazem à luz a possibilidade de novas interpretações sobre a história de Santa Catarina. No conjunto de documentos escritos preservados pelo Judiciário, estes possuem características físicas que se sobrepõem ao conteúdo. São considerados praticamente objetos arqueológicos, que ajudam a compreender melhor eventos do passado, como o ataque sofrido por Curitibanos em 1914.
"Embora esses documentos não contenham em si informações escritas sobre a Guerra do Contestado, por se tratar de processos judiciais que tramitaram nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do século XX, eles registram - não por palavras - esse importante episódio para a história do município de Curitibanos e de Santa Catarina", explica Adelson André Brüggemann, historiador e chefe da Divisão de Documentação e Memória do Judiciário.
Ele classifica tais documentos como monumentos que, segundo o historiador francês Jacques Le Goff, constituem tudo aquilo que pode evocar o passado e perpetuar a recordação. "Eles são, de fato, monumentos que transmitem parte do cenário daquele ataque, das lutas de uma parcela da sociedade, da aflição daqueles que observavam, amedrontados, a destruição da cidade - e comprovam a atitude de personagens desconhecidos pela história que, logo após a invasão e em meio ao grande incêndio, apressaram-se em juntar todos aqueles papéis jogados na rua e guardá-los consigo", complementa Brüggemann.
O historiador, ao final, considera que esses documentos judiciais, em pleno século XXI, ganham características e funções semelhantes a pinturas, fotografias, móveis e edificações selecionados como relevantes para a história das sociedades. "A análise desses documentos coloca em primeiro plano a forma, as condições e as marcas contidas em suas folhas. O conteúdo escrito, quase sempre tão importante aos historiadores, tornou-se pouco significante nessa situação. As amassaduras, a lama, as marcas de pata de cavalo, os furos de espada, isso sim nos conta muito sobre aquele longínquo dia chuvoso em que Curitibanos foi incendiada", conclui.
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)