Voltar Visitar museu é ingressar em túnel do tempo: Judiciário viaja para conflito de 1914

Visitar museus opera muitas vezes milagres como ingressar em túneis do tempo. No Museu do Judiciário do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por exemplo, a possibilidade de se transportar para a manhã sombria de 26 de setembro de 1914, na cidade de Curitibanos, em plena Guerra do Contestado, é quase concreta. Naquele dia,  em meio a fortes chuvas, mais de uma dezena de edificações do município, inclusive o fórum da comarca de Curitibanos, foi incendiada.

Os documentos judiciais conservados no edifício que abrigava o fórum foram alvo daquele ataque. Muitos processos foram atirados para fora do prédio e permaneceram no meio da rua, sob a chuva e na lama, onde foram pisoteados por cavalos que atravessavam a rua em disparada. Pois agora, muito em breve, parte desses documentos, após passagem pela Divisão de Documentação e Memória do Judiciário, para atividades de higienização, identificação e catalogação de documentos judiciais, estará disponível para visitação no Museu do Judiciário.

Outra parcela ainda guarda camadas de lama, marca de patas de cavalo e furos de espada. Datados do princípio do último século, trazem à luz a possibilidade de novas interpretações sobre a história de Santa Catarina. No conjunto de documentos escritos preservados pelo Judiciário, estes possuem características físicas que se sobrepõem ao conteúdo. São considerados praticamente objetos arqueológicos, que ajudam a compreender melhor eventos do passado, como o ataque sofrido por Curitibanos em 1914.

"Embora esses documentos não contenham em si informações escritas sobre a Guerra do Contestado, por se tratar de processos judiciais que tramitaram nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do século XX, eles registram - não por palavras - esse importante episódio para a história do município de Curitibanos e de Santa Catarina", explica Adelson André Brüggemann, historiador e chefe da Divisão de Documentação e Memória do Judiciário.

Ele classifica tais documentos como monumentos que, segundo o historiador francês Jacques Le Goff, constituem tudo aquilo que pode evocar o passado e perpetuar a recordação. "Eles são, de fato, monumentos que transmitem parte do cenário daquele ataque, das lutas de uma parcela da sociedade, da aflição daqueles que observavam, amedrontados, a destruição da cidade - e comprovam a atitude de personagens desconhecidos pela história que, logo após a invasão e em meio ao grande incêndio, apressaram-se em juntar todos aqueles papéis jogados na rua e guardá-los consigo", complementa Brüggemann.

O historiador, ao final, considera que esses documentos judiciais, em pleno século XXI, ganham características e funções semelhantes a pinturas, fotografias, móveis e edificações selecionados como relevantes para a história das sociedades. "A análise desses documentos coloca em primeiro plano a forma, as condições e as marcas contidas em suas folhas. O conteúdo escrito, quase sempre tão importante aos historiadores, tornou-se pouco significante nessa situação. As amassaduras, a lama, as marcas de pata de cavalo, os furos de espada, isso sim nos conta muito sobre aquele longínquo dia chuvoso em que Curitibanos foi incendiada", conclui. 

Imagens: Divulgação/Museu do Judiciário
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)

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