Com 20 mil seguidores no Insta, servidora atua cotidianamente pela igualdade de gênero - Imprensa - Poder Judiciário de Santa Catarina
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A receita é simples, o complicado é encontrar os ingredientes e juntá-los numa mesma fôrma. Pegue várias doses de idealismo, misture com pitadas de esperança, cubra tudo isso com grossas camadas de coragem, espalhe anos de estudo e de reflexão, use como fermento a força de vontade e misture tudo de uma vez, sem parar. A partir daí, você estará apto ou apta a trabalhar, diariamente, com assuntos que embrulham o estômago de muita gente: violência contra a mulher, racismo, homofobia e outros tipos de agressão que atentam contra os Direitos Humanos.
É com essas questões que Michelle Hugill lida todos os dias. Desde 2013, ela integra a equipe de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres, órgão do Poder Judiciário de Santa Catarina que realiza um trabalho em rede sustentado por três eixos principais: proteger as mulheres, educar as crianças e estimular a reflexão nos homens.
No começo, Michelle supunha que a violência doméstica afetava com mais frequência as mulheres pobres e que a solução seria aumentar a pena dos agressores. Com o tempo, percebeu que o problema atinge todas as classes sociais e que são necessárias ações sequenciais, aliadas a uma incessante conscientização para mudar a realidade.
Segundo ela, a sociedade educa as mulheres para cuidar e educa os homens para serem cuidados. Por isso, sustenta, é inócuo o combate à violência doméstica sem um olhar mais amplo. “A igualdade de gênero, pela qual lutamos, é uma questão cultural e é por aí que devemos seguir, atuando nas esferas pública e privada para mudar o sistema como um todo.”
Natural de Criciúma, Michelle trabalha na sede do TJ, em Florianópolis, e mora em Palhoça. Tem 44 anos, dois filhos, um marido inglês e um extenso currículo acadêmico. Sua primeira faculdade foi em Enfermagem, mas desistiu quando a professora lhe mostrou uma fratura exposta. Em seguida, fez cinco semestres de Ciências Contábeis e largou para aprender programação em uma empresa de tecnologia. Depois ingressou na faculdade de Automação Industrial, que precisou interromper ao mudar de cidade.
Finalmente, ao passar no concurso público em 2002, descobriu sua vocação autêntica. Trabalhou como técnica judiciária em Jaguaruna, depois em Biguaçu e na capital. Gostou tanto que engatou e concluiu duas faculdades simultaneamente, Direito e Administração Pública. “Olhando em retrospecto, o ímpeto da justiça sempre esteve em mim, a ponto de minha mãe me chamar de ‘Mônica da rua’, porque todo mundo me procurava para resolver os problemas.”
Michelle circula com facilidade por diversas áreas do conhecimento, mas agora tem um foco definido: ela quer entender a complexidade da violência contra a mulher e a raiz que a sustenta: o machismo. “Somos, mulheres e homens, atravessados pelo machismo - e ele é ruim para todo mundo”, analisa.
Os resultados de alguns projetos da Cevid são vistos a longo prazo. Muitas ações, no entanto, têm efeito imediato. Por exemplo: no dia desta entrevista, uma vítima de violência foi à delegacia requisitar medida protetiva para si e para o filho. Quem a atendeu passou uma informação errada: disse que a medida poderia ser concedida apenas para ela - não para o filho - e que a vítima deveria deixar a criança com o próprio agressor. A Cevid foi acionada, entrou em contato com a delegada, que não sabia do ocorrido, falou com o juiz e a situação se resolveu.
Nas horas vagas, entre outros hobbies, Michelle interage nas redes sociais - sua conta no Instagram é seguida por 20 mil pessoas. “Meu Insta reflete minha mente inquieta”, diz. Ela utiliza a ferramenta para discutir igualdade de gênero e divulgar eventos, mas também para compartilhar coisas do cotidiano, da família, dos pets e tudo mais que a encanta ou incomoda, muitas vezes com bom humor.
Assim como não há receita pronta para fazer sucesso na internet, Michelle sabe que não há receita definitiva para acabar com as diversas formas de violência, mas ela carrega os ingredientes necessários para seguir a caminhada, sem perder a coragem e a esperança. “É preciso dialogar com a sociedade como um todo”, conclui, “porque nesta luta precisamos de aliados e não de inimigos”.
Conteúdo: Assessoria de Imprensa/NCI
Responsável: Ângelo Medeiros - Reg. Prof.: SC00445(JP)